Efeitos da integração à economia de mercado sobre a pesca e o consumo de pescado: um estudo em sete comunidades amazônicas do Brasil e da Bolívia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Gonçalves, Paola Sarah Fonseca
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/106/106132/tde-29032016-113434/
Resumo: A maior participação na economia de mercado de sociedades indígenas e extrativistas habitantes de florestas tropicais provoca transformações no uso de recursos naturais. Enquanto vários estudos prévios avaliam mudanças na caça e na agricultura, os efeitos sobre a pesca e o consumo de pescado em tais sociedades são, em geral, negligenciados muito embora o consumo de pescado seja importante fonte de proteína para essas populações. Este estudo teve, portanto, como objetivos centrais avaliar os efeitos da exposição à economia de mercado sobre a pesca e o consumo de pescado, e ainda, sobre o orçamento temporal das unidades domésticas. Partiu-se de duas hipóteses, sendo a primeira que o aumento da exposição ao mercado estaria associado a menor tempo dedicado à pesca, assim como, menor quantidade de pescado consumida pelas unidades domésticas. Já a segunda assume que o aumento da exposição ao mercado diminuiria o tempo que homens adultos dedicariam à pesca, ao mesmo tempo em que aumentaria o tempo dedicado à atividade por mulheres e idosos. Para isso, foram estudadas sete comunidades pertencentes a cinco sociedades indígenas e extrativistas da Amazônia brasileira e boliviana. Os dados provêm de um survey por entrevistas e de duas técnicas de observação direta (i.e., random-interval instantaneous sampling e weigh day) e foram analisados por meio de análises descritivas e modelos mistos com efeitos fixos e aleatórios. Os resultados mostram que tanto a pesca como as atividades de mercado e a maior parte da renda das famílias são providas pelos homens não idosos. Além disso, o aumento do tempo dedicado ao mercado esteve associado à redução do tempo dedicado à pesca pelas unidades domésticas e pelos homens, enquanto o incremento da renda monetária esteve associado ao aumento do consumo de pescado pelas famílias e não teve efeitos sobre o tempo dedicado à pesca por homens, mulheres e idosos. Quatro fatores podem explicar estes resultados: (i) existência de trade-off no tempo, fazendo com que aqueles que dedicam mais tempo ao mercado tenham pouco tempo para pescar; (ii) transformações nas tecnologias de pesca e na área de forrageamento (meios de transporte) para famílias com maior renda, que permitem aumento do consumo com menor tempo dedicado à atividade; (iii) redução do compartilhamento de pescado concomitante a sua compra, e (iv) atividades com maiores níveis de renda não necessariamente envolvam grande tempo despendido. Conclui-se que o envolvimento das famílias na economia de mercado tem efeitos diferenciados ou nulos sobre a pesca, a depender dos indicadores adotados.