Efeitos da adição de óxido nitroso ao tratamento farmacológico no transtorno depressivo maior: ensaio clínico randomizado e duplo-cego

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Guimarães, Mara Rocha Crisóstomo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17148/tde-06092019-145707/
Resumo: o transtorno depressivo maior (TDM) tem grande impacto global e prevalência anual de 4,7%. A taxa de remissão com os antidepressivos baseados na modulação monoaminérgica é baixa, tornando necessária a busca por novos alvos farmacológicos. Além da eficácia da ação antidepressiva do antagonista do receptor de glutamato N-metil-Daspartato (NMDAR), ketamina, existem crescentes evidências pré-clínicas e clínicas relacionando o TDM a uma desregulação do sistema glutamatérgico. O óxido nitroso (N2O) é um anestésico inalatório antagonista do NMDAR de fácil administração ambulatorial. Objetivo: avaliar o efeito da associação de N2O ao tratamento antidepressivo em pacientes com TDM. Métodos: conduzimos um ensaio duplo-cego, controlado por placebo, randomizado e paralelo de junho de 2016 a junho de 2018 no Laboratório de Psicofarmacologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP). Os sujeitos foram recrutados nos ambulatórios do HCFMRP-USP, referenciados por profissionais de clínicas privadas ou buscaram espontaneamente a equipe do estudo através de telefone/e-mail divulgados. Foram incluídos 23 sujeitos com TDM, de 18 a 65 anos, em tratamento com antidepressivo sem ajuste de dose por pelo menos quatro semanas, com pontuação > 17 na Escala para Avaliação de Depressão de Hamilton de 17 itens (HAM-D17). Os critérios de exclusão foram presença de transtorno bipolar, transtornos psicóticos, transtorno do uso de substâncias, hipomania/mania induzida por antidepressivo, sintomas psicóticos, ideação suicida grave, condições clínicas relevantes, gravidez, amamentação, contraindicação ao uso de N2O e dificuldade de respirar pelo nariz. Os sujeitos foram randomizados para receber N2O 50% ou placebo (oxigênio 100%) durante 60 minutos duas vezes por semana, quatro semanas seguidas. Em cada sessão, antes e após a inalação do gás, foram aplicadas a HAM-D17, o Inventário de Depressão de Beck II (BDI-II), a Escala de Avaliação do Risco de Suicídio de Columbia (C-SSRS) e a Escala de Avaliação de Mania de Young (YMRS). A principal medida de desfecho foi a mudança na pontuação da HAM-D17 ao final do estudo. Resultados: Doze sujeitos receberam N2O (37,17 ± 13,59 anos; sexo feminino: 83%) e onze receberam placebo (37,18 ± 12,77 anos; sexo feminino: 82%). Dois sujeitos, ambos do grupo placebo, não concluíram o estudo. Os sintomas depressivos melhoraram significativamente no grupo N2O em comparação ao placebo (de 22,58 ± 3,82 para 5,92 ± 4,08 e de 22,44 ± 3,54 para 12,89 ± 5,39 na HAM-D17). Quase 92% dos sujeitos no grupo N2O preencheram critérios de resposta terapêutica (redução na HAM-D17 >= 50%) e 75% atingiram remissão (HAM-D17 < 7), contra 44,4% e 11,1% no grupo placebo. A administração de N2O foi brevemente interrompida em quatro sujeitos e encerrada antecipadamente em três sujeitos devido principalmente a náuseas, vômitos e cefaleia. Estes eventos melhoraram logo após a suspensão da inalação e não ocorreram eventos adversos graves. Conclusão: os dados sugerem que o N2O 50% possui efeitos antidepressivos quando associado ao tratamento antidepressivo atual. As possibilidades terapêuticas do N2O devem ser investigadas em ensaios com amostras maiores e avaliação de seguimento prolongado