Entre duas metrópoles: (-R) em Itanhandu

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2015
Autor(a) principal: Silva, Mariane Esteves Bieler da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-25112015-111636/
Resumo: Com base nos pressupostos teórico-metodológicos variacionistas (LABOV, 2006 [1966]; 2008 [1972]; 1999; 2001; 2010) e em alguns conceitos caros à terceira onda (ECKERT, 2012) da Sociolinguística, este trabalho objetiva estudar a comunidade de fala sul-mineira de Itanhandu. Itanhandu se localiza em uma região de tríplice divisa entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Além dessa posição geográfica singular, os itanhanduenses revelam possuir com as capitais fluminense e paulista uma relação de identificação maior do que possuem com a própria capital de seu estado, o que parece influenciar o falar local, sobretudo na realização de (-r). O estudo de Itanhandu iniciou-se com uma coleta de 36 entrevistas sociolinguísticas na cidade, que possibilitaram constatar a presença não só de retroflexos, pronúncia considerada a mais prototípica na comunidade, mas também de tepes e fricativos, variantes comumente associadas às capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro, respectivamente. Diante da verificação da ocorrência de tais variantes em Itanhandu, aventou-se a hipótese de que elas estariam correlacionadas aos dois grupos de identificação presentes na cidade, um que se compõe de itanhanduenses que gostam de morar lá e não desejam se mudar ou que tenham saído dela, mas desejam voltar; e outro que se define por itanhanduenses que desejam tentar a vida fora de Itanhandu ou que já se mudaram e não desejam retornar. Entretanto, a análise quantitativa dos dados mostra que as variantes não prototípicas em Itanhandu estão mais ligadas ao tempo de permanência que os itanhanduenses passaram fora de sua cidade natal, ou seja, pronúncias tepes e fricativas são menos correlatos de uma questão identitária e mais de um fenômeno que se dá naturalmente em um processo de acomodação linguística (GILES, 1973) pelo qual passam os itanhanduenses que moram em outras cidades, principalmente localizadas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Além disso, este trabalho também investiga a existência de graus de retroflexão em Itanhandu. Retroflexos fortes, ou seja, mais duradouros e intensos, opõem-se a retroflexos fracos, ou melhor, mais curtos e com intensidade reduzida. A análise quantitativa dos dados mostra que tal variação correlaciona-se, principalmente, a variáveis linguísticas: são os grupos de fatores Classe Morfológica da Palavra com (-r) e Frequência do Item Lexical com (-r) os que mais explicam a existência de tal fenômeno em Itanhandu. Por fim, esta dissertação mostra a complexidade da identidade itanhanduense, composta não só de relações sociais, econômicas e linguísticas estabelecidas com cidades paulistas e fluminenses, mas também a partir das vivências individuais dos itanhanduenses, das cidades em que eles já moraram, da forma com que se relacionam com Itanhandu e com os itanhanduenses, das posturas que assumem diante de fatos da vida cotidiana e, principalmente, diante de fatos da realidade linguística da comunidade de fala em que se inserem.