Temporalidades e memórias em disputa nas obras Ensaio sobre a cegueira e A máquina de fazer espanhóis

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Santos, Cícero Alexsande dos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8156/tde-26072024-123244/
Resumo: O propósito desta pesquisa consiste em cotejar as composições Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, e a máquina de fazer espanhóis, de Valter Hugo Mãe. A vinculação de ambos os escritores com o âmbito político, bem como suas concepções acerca da humanidade e identidade, transparece em suas obras literárias. Nesse sentido, almeja-se desvelar a trajetória literária de José Saramago, desde seu autoexílio na Espanha até a laureação com o Prêmio Nobel, tendo como marco a publicação de \"Ensaio\" em 1995; simultaneamente, analisam-se os caminhos percorridos no conjunto de obras romanescas de Valter Hugo Mãe, estruturados pela noção de memória nas fases infantil, adulta e senil. A aproximação destes dois romances confere uma ambivalência semântica: por um lado, distinguem-se pela perspectiva de mundo, caracterizada por uma espécie de sociologia do ceticismo em Saramago e por uma filosofia da esperança em Mãe; por outro lado, aproximam-se ao abordarem a crise da humanidade capitalista para além das fronteiras portuguesas, mediante conceitos como alienação, trabalho e memória. Embasadas em uma concepção de materialismo histórico e do comparatismo literário, estas duas obras são interpretadas nesta pesquisa como exemplos de uma literatura comprometida e que, alicerçada na história, logra questionar e suscitar reflexões acerca de regimes ditatoriais, a exemplo do salazarismo, que afligiu Portugal por mais de quatro décadas. Partindo deste ponto, destaca-se a centralidade da figura do bom homem na instauração de conflitos históricos, sobretudo aqueles capazes de fundir a memória individual e coletiva em suas polivalências. Ademais recai sobre os cidadãos comuns a responsabilidade de restaurar o mundo em ambas as obras, suscitando nos protagonistas uma reflexão acerca de suas hipocrisias e incapacidades de lidar com o caos. Por fim, a apreensão das noções de tempo burguês revela-se um ponto nevrálgico na aproximação dessas obras, tidas como um marco na literatura portuguesa