Infância, didática, salvacionismo: implicações em torno da arte de ensinar em Comenius

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Chiquito, Ricardo Santos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-09122014-134629/
Resumo: Esta tese trata da infância e de uma didática, aquela formulada por Comenius no entrelaçamento de A escola da infância, O labirinto do mundo e o paraíso do coração e Didática Magna, endereçada, de uma forma ou de outra, à infância. Por isso, pensa a didática no âmbito de um dispositivo de infantilidade, uma vez que ali se conjugam um tipo de saber, uma forma de poder e um modo de produzir o sujeito infantil. Daí a pergunta: de que modo a didática comeniana aquela arte didática, arte de ensinar produz a infância e seus modos de conhecê-la, conduzi-la e governá-la? O objetivo desta pesquisa é justamente inventariar e, de alguma maneira, problematizar, por meio das ideias foucaultianas em torno do poder pastoral e da governamentalidade, a produtividade da arte didática comeniana a partir das suas forças de criação: 1. a infantilização da infância; 2. o governo da infância (e de si) e 3. a escrita didática como um trabalho ético, estético e político, uma forma de pensar e de escrever em educação. Parece haver toda uma tecnologia da salvação em operação na didática da infância comeniana: conhecer, formar, conduzir, governar. Tecnologia do poder pastoral que se destina a todos e a cada um. Aos outros e a si mesmo, esse propósito maior desse tipo de poder. O outro, a criança, esse ser em formação, desde a tenra idade, para não se perder no labirinto do mundo, indivíduo que está sujeito à operação do poder pastoral. A si mesmo, a criança por ela mesma, aquela que conhece o caminho para a salvação e que adere a ele (Deus), aquele que se conhece, se guia, se governa, o indivíduo que se sujeita, ele mesmo, aos exercícios da pastoral educativa da arte didática. O que se tem aí é toda uma infantilização da infância em curso. Produção de uma identidade específica a criança educada, obediente, crente. Produção de um modo de vida infantil a criança sujeita à arte didática, a criança que se sujeita à arte didática. O que está em jogo ali é justamente ensinar aquilo que se é, aquilo que se pode ser. O infantil estaria, desde então, na mira dos adultos, em uma relação de dependência dos adultos, aqueles que inculcariam nos primeiros os valores, os códigos de uma vida conformada a toda uma rede de saberes e poderes em torno da educação. A infância como objeto da educação. O infantil a ser educado, a ser salvo, do mundo e dele mesmo. Assim, a infância foi-se fazendo na trama da escrita didática desde Comenius, essa peça de um dispositivo de infantilidade ocidental, que ainda estaria em curso.