Resumo: |
A presente dissertação analisa a importância da transmissão oral e empírica do saber fazer dos artífices tradicionais para salvaguarda do Patrimônio Cultural edificado, estabelecendo assim uma crítica sobre as formas atuais de contratação de obras de restauração e sobre o distanciamento entre teoria e prática que se vê refletido nas políticas de preservação patrimonial no Brasil. Estas tendem a privilegiar a preservação da forma e do objeto arquitetônico por meio do instrumento do tombamento, deixando comumente as técnicas construtivas tradicionais à margem da discussão. Trata-se de uma contradição uma vez que para preservação do Patrimônio Cultural arquitetônico é imprescindível o domínio de técnicas construtivas já não mais correntemente aplicadas, baseadas fundamentalmente no trabalho manual e, dependendo, portanto, da destreza, habilidade e inventividade dos artesãos. Para contribuir na reflexão sobre como viabilizar a formação profissional do trabalhador dentro dos canteiros de obra de restauração no cenário brasileiro atual, são apresentados tipos distintos de experiências realizadas no âmbito público e privado, tendo como foco o Programa de Oficinas-Escola financiado e difundido na América Latina pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento a partir da década de 1990. Este programa conjuga a preservação do patrimônio cultural com o resgate de ofícios tradicionais, a formação profissional e a geração de renda e trabalho, utilizando o método aprender fazendo, em que a aprendizagem se dá em situações reais de trabalho. A longa duração e o largo alcance territorial do programa possibilitaram a comparação de diferentes arranjos em diferentes realidades, confrontando-os com a experiência das três oficinas-escola brasileiras estabelecidas nas cidades de João Pessoa, Salvador e São Luís. Esta análise permitiu identificar entraves comuns e possíveis caminhos para centros de formação profissional no campo da restauração, que tenham como princípios a formação integral do ser humano e o adensamento do poder nas mãos de quem lida com o conhecimento técnico, valorizando e reconhecendo o seu saber. |
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