Das madeiras, dos livros, das narrativas sobre o tempo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2022
Autor(a) principal: Oliveira, Bruno de Paula
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27159/tde-18012023-110513/
Resumo: Este projeto é composto por dois livros de imagens impressos em xilogravura junto a dois ensaios independentes, compondo um terceiro volume em que são apresentadas as referências conceituais e estéticas, e também o processo de construção de cada uma das narrativas visuais presentes nos livros de imagens. Como ponto comum, além do uso de matrizes xilográficas para a impressão, as duas narrativas abordam o tema da passagem do tempo. No ensaio que aborda o primeiro livro de imagens, intitulado das nuvens, a partir de um exercício de contemplação do movimento das nuvens no céu, são apresentadas reflexões sobre a criação de livros utilizando a imagem em xilogravura como meio de impressão e expressão. Abordando de maneira anacrônica e através do desenvolvimento de uma estrutura constelar estão presentes no texto alguns exemplos da construção poética de imagens das nuvens no ocidente, como as estampas do Livro do Apocalipse, criado por Albrecht Dürer, e demonstrações nas estampas orientais desenvolvidas no Japão do período Edo, principalmente dos livros de imagens (ehon) produzidos para diversos fins e que contribuíram para a estética do gênero ukiyo-e (pinturas do mundo flutuante). Contudo, não é possível levantar reflexões sobre livros e sequências de imagens sem abordar produções artísticas que tenham os aspectos de narratividade como espinha dorsal da criação poética. Para tanto, olhamos para obras de diversos artistas, como as do holandês Frans Masereel, dos estadunidenses Andy Warhol e Edward Rucha, além das estampas xilográficas assinadas pela brasileira Luise Weiss. A discussão sobre a representação gráfica das nuvens se faz presente neste texto a partir de reflexões a respeito da presença do yohaku (espaço vazio) nas composições pictóricas do oriente, e de como essa relação com o branco das nuvens também está presente nas obras de artistas ocidentais, como o pintor inglês William Turner, além de, por outro lado, também se observa a construção intelectual de nuvens desenhadas na obra Projeto para a construção de um céu, da paulistana Carmela Gross. As referências ao trabalho de Gross são seguidas por parágrafos que dissertam sobre o uso de tons de azul para a confecção de nossos livros de imagens e a concepção das matrizes que compõem os livros. O segundo ensaio deste projeto, logicamente referindo-se ao outro livro de imagens, dos rios, tem início no fragmento escrito pelo filósofo pré-socrático Heráclito de Efeso: No mesmo rio, de fato, não é possível entrar duas vezes. O conceito de impermanência presente neste fragmento de Heráclito, e que conduz a narrativa deste trabalho, é um tema também comum na produção literária e artística do oriente, pois, principalmente após a introdução do budismo, diversas obras o traduzem. Assim, é fundamental nos voltarmos para a produção desses povos, principalmente se estamos interessados em livros compostos por imagens com impressões xilográficas. É a partir dos livros e séries de estampas do gênero ukiyo-e que buscamos referências estéticas para criar as figuras presentes nas composições do livro dos rios. São figuras de espécies animais e vegetais que, em nossos livros, se perdem a partir da construção das narrativas instrumentalizadas pelo processo de Tradução intersemiótica, proposto por Julio Plaza. São as referências das ideias de Plaza que nos conduzem a operar em composições ideogramáticas, ao estilo das montagens dos filmes de Serguei Eisenstein, e em uma busca por desenvolver a potencialidade das imagens reprodutíveis e repetíveis, que são guiadas, desta vez, pela poética de Evandro Carlos Jardim. Assim destrincham-se as múltiplas relações que as imagens estabelecem com a narrativa e, para além dos livros, com a passagem do tempo e com as formas com as quais lidamos quando entramos em contato com essas obras, que pretendem contar histórias através de narrativas plurais.