Avaliação de Fatores de Risco Cardiovascular, com ênfase na Hipertensão Arterial, em Indígenas da Etnia Mura: estudo comparativo entre população rural e urbana

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Souza Filho, Zilmar Augusto de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/7/7139/tde-12072017-170331/
Resumo: A prevalência de fatores de risco cardiovascular, com destaque para a hipertensão arterial tem mostrado tendência presente e ascendente em populações indígenas. O objetivo principal desse estudo foi comparar o perfil de fatores de risco cardiovascular, com destaque para hipertensão arterial, em indígenas Mura da área rural e urbana do município de Autazes, Amazonas. Casuística e Métodos: Estudo transversal, realizado no município de Autazes no estado do Amazonas com 455 indígenas da etnia Mura (234 indígenas da área rural e 221 da área urbana). Os participantes foram caracterizados em relação a variáveis sociodemográficas, hábitos e estilos de vida, condições de saúde, perfil antropométrico, perfil lipídico e glicemia de jejum. A pressão arterial foi avaliada pela medida casual, com aparelho automático validado. Hipertensão foi definida para valores 140 e/ou 90 mmHg ou diagnóstico prévio de hipertensão.Avaliou-se os fatores associados a hipertensão arterial, por meio da regressão de Poisson com variância robusta, sendo considerados estatisticamente significativos, valores de p0,05. Resultados: A maioria era do sexo feminino (57,8%), a média de idade foi de 42,2(16,7) anos, analfabetismo e ensino fundamental incompleto (58,0%), morando com companheiro (73,5%). A prevalência de hipertensão nos indígenas Mura foi de 26,6% (IC95% 22,5-30,7), menor entre os da área rural (21,8% vs 31,7%,p0,05). Os indígenas Mura da área rural foram diferentes (p0,05) dos indígenas da área urbana, respectivamente, em relação a: idade menos elevada [40,5(16,5) vs 43,7(16,8) anos)]; estado civil amasiado (58,2% vs 33,4%); renda familiar menorque três salários (43,6% vs 51,6%); mais trabalho temporário (61,5% vs 47,1%); venda mais elevada de produtos agropecuários e da pesca (53,4% vs 30,3%); pertencentes a classe econômica D e E (97,8% vs 74,2%). Em relação às características antropométricas, os indígenas da área rural foram diferentes (p0,05) dos da área urbana, respectivamente, para: IMC menos elevado [25,7(4,1) vs 27,6(5,2) kg/m²]; presença de obesidade (15,8% vs 35,3%); circunferência da cintura aumentada substancialmente (8,5% vs 42,1%); relação cintura quadril aumentada (81,2% vs 89,1%); percentual de gordura corporal muito alta (32% vs 48,8%); gordura visceral alto (17,1% vs 25,3%). Quanto aos hábitos e estilos de vida, os indígenas da área rural foram diferentes (p0,05) dos da área urbana em relação ao: menor índice de tabagismo com 11 anos ou mais (46,5% vs 62,0%); maior índice de: etilismo (57,3% vs 22,2%), sedentarismo (17,1% vs 11,3%)]. Quanto o modo de preparo dos alimentos, os indígenas da área rural se diferenciaram (p0,05) dos da área urbana, respectivamente, quanto à maior: utilização do método da cocção (81,2% vs 72,8%); adição de sal nas refeições prontas (58,1% vs 43,9%) e utilização de açúcar (100% vs 97,7%). Em relação à hipertensão arterial, os indígenas da área rural foram diferentes (p0,05) dos da área urbana, respectivamente, quanto à: menor prevalência de hipertensão referida (12,8% vs 28,1%); receberam menos orientações para tratamento não medicamentoso (18,2% vs 55,8%); deixaram de comparecer às consultas marcadas por falta de dinheiro (68,4% vs 25,0%); tinham dificuldade para realizar o tratamento medicamentoso por esquecimento (85,0% vs 14,3%). Quanto aos antecedentes familiares de doenças cardiovasculares, os indígenas da área rural referiram menos (p0,05): problemas de coração (28,6% vs 34,8%), acidente vascular encefálico (22,6% vs 34,8%), diabetes mellitus (26,0% vs 45,7%), dislipidemias (25,6% vs 43,9%) e de hipertensão arterial (57,7% vs 72,4%). Em relação aos antecedentes pessoais, os indígenas da área rural foram diferentes (p0,05) ao referirem ausência: de problemas de coração (63,7% vs 72,4%), de acidente vascular encefálico (99,1% vs 94,1%), de diabetes mellitus (62,0% vs 83,3%) e de dislipidemias (56,0% vs 60,3%). Os indígenas hipertensos foram estatisticamente diferentes dos indígenas não hipertensos, respectivamente, em relação a: idade mais elevada [53,6(16,6) vs 37,9(14,4) anos]; analfabetismo e ensino fundamental incompleto (71,0% vs53,3%); viver sem companheiro (60,3% vs 77,2%); renda familiar menor que três salários (57,1% vs 44,0%); tinham menos trabalho remunerado temporário (46,3% vs 57,5%); menos benefício de programa social (43,8% vs 66,2%); aposentados (43,0% vs 20,4%). Os indígenas hipertensos foram diferentes (p0,05) dos indígenas não hipertensos por apresentarem a maior elevação: do IMC [28,9(5,0) vs 25,8(4,3) kg/m²], de obesidade (40,5% vs 19,8%), da circunferência do pescoço aumentada (75,2% vs 54,8%); da circunferência da cintura aumentada substancialmente (28,1% vs 21,9%), da relação cintura quadril aumentada (95,0% vs 81,4%), índice de conicidade mais elevado [1,32(0,05) vs 1,25(0,07)], gordura visceral muito alto (55,4% vs 34,7 gordura corporal muito alto (22,3% vs 5,7%); músculo esquelético baixo (45,0% vs 25,1%). Apresentaram ainda: triglicérides alto (30,6% vs 16,8%); colesterol alto (16,5% vs 6,0%); diabetes mellitus (6,6% vs 1,8%). Quanto aos hábitos de vida, os indígenas hipertensos referiram menos (p0,05): tabagismo (12,4% vs 23,4%), utilização de pílula ou hormônio anticoncepcional (15,1% vs 26,8%, p0,05). Eram mais praticantes de atividades físicas regulares (50,4% vs 46,1%). Quanto à alimentação, os indígenas hipertensos foram diferentes (p0,05) quanto à menor aquisição de alimentos da caça e/ou pesca (48,8% vs 68,3%), menor utilização de óleo vegetal (96,7% vs 99,7%) e adição de sal nas refeições prontas (43,0% vs 54,2%), porém utilizava mais gordura animal ou banha para o preparodos alimentos (12,7% vs 5,1%). Os indígenas hipertensos foram diferentes (p0,05) dos indígenas não hipertensos por apresentarem respectivamente mais história pregressa: de problemas de coração (14,9% vs 3,6%), de ocorrência de acidente vascular encefálico (9,1% vs 1,2%), ter diabetes mellitus (12,4% vs 2,4%) e ter tido e/ou ainda possuir dislipidemias (29,2% vs 9,6%).O fator de risco não modificável associado à hipertensão foi a idade [RP ajustada = 1,04 (IC95% 1,03-1,05)]. Entre os fatores modificáveis associaram-se à hipertensão: o IMC [RP ajustada = 1,07 (IC95%1,05-1,10)], os triglicerídeos classificados como limítrofe [RP ajustada = 1,68 (IC95% 1,19-2,38)] e alto [RP ajustada = 1,47 ( IC95% 1,06-2,04)], antecedente pessoal de dislipidemia [RP ajustada = 1,50(IC95% 1,09-1,94)], preparo de alimentos com gordura animal [RP ajustada = 1,89(IC95% 1,30-2,74)] e com gordura vegetal animal [RP ajustada = 0,36(IC95% 0,26-0,51)]. Conclusão: A prevalência de hipertensão foi alta, ainda se observou sinais de mudanças de hábitos e estilos de vidas, semelhantes à população não indígena.