Recuperação escolar: discurso oficial e contidiano educacional - um estudo a partir da psicologia escolar

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2010
Autor(a) principal: Caldas, Roseli Fernandes Lins
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47131/tde-15042010-150817/
Resumo: O estudo propõe-se a discutir a recuperação escolar enquanto estratégia pedagógica de apoio e auxílio aos alunos que não aprendem, tomando como referencial teórico a Psicologia Histórico-Cultural. Como principais objetivos desta pesquisa destacam-se: a) estabelecer uma análise crítica, a partir dos conceitos da psicologia escolar, sobre a trajetória histórica da implantação de programas de recuperação na rede pública paulista e concepções de aprendizagem subjacentes, b) compreender repercussões dessa prática por meio dos sentidos pessoais atribuídos à recuperação escolar por educadores, pais e alunos. De cunho qualitativo, essa pesquisa, em moldes etnográficos, utilizou-se dos seguintes procedimentos: análise de documentos oficiais do estado de São Paulo e das Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1961; 1971; 1996); observações participantes em duas salas de recuperação; entrevistas individuais com professoras, coordenadora, diretora e mães de alunos; entrevistas coletivas com dois grupos de alunos e análise de seus desenhos sobre a classe de recuperação, sendo todos os participantes vinculados regularmente a uma escola da rede estadual situada na zona sul da cidade de São Paulo. O levantamento documental realizado com o objetivo de compilar publicações oficiais revelou que inúmeros planos de recuperação escolar vêm sendo apontados como \"remédios\" aos problemas educacionais ao longo da história, tendo a investigação conduzido ao documento oficial do primeiro programa de recuperação escolar elaborado por Antonio D\"Ávilla, em 1936. A pesquisa de campo revelou grande distanciamento entre as propostas oficiais e sua concretização no cotidiano escolar. A busca do sentido da recuperação conduziu à conclusão de que esta prática configura-se muito mais como um espaço de impossibilidades do que de potencialidades. As classes de recuperação exercem em alunos e professores o pernicioso efeito de cristalização do \"não saber\" - professores destituídos de sua função de ensinar e alunos desistentes de suas possibilidades de aprender. A prática da recuperação indica camuflagem e pretensa compensação diante do não cumprimento, nas classes regulares, do principal objetivo da escola, o processo de ensino e aprendizagem. Foi consensual entre os participantes da pesquisa a concepção sobre a fragilidade e descrédito da função da recuperação, apontando o esvaziamento do sentido dessa prática pedagógica para todos os seus atores: professores, gestores, pais e alunos. Esta pesquisa põe-se como mais uma denúncia na direção da luta por educação de qualidade na escola pública brasileira e um anúncio da possibilidade de que a recuperação paralela e a recuperação contínua, propagadas pelos discursos oficiais como soluções, dêem lugar a outro processo que a autora se aventura a denominar de aprendizagem contínua, buscando por meio da mediação superar as dificuldades e possibilitar o desenvolvimento dos alunos dentro dos espaços das salas de aula regulares, não em espaços à parte, como as classes de recuperação.