Darcy Ribeiro ficcionista: leitura dos três romances pós-Maíra

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Oliveira, Elise Aparecida de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8151/tde-03032020-161925/
Resumo: A presente tese, Darcy Ribeiro ficcionista: leitura dos três romances pós-Maíra, analisa os romances O mulo, Migo, Utopia Selvagem: saudades da inocência perdida: uma fábula, do antropólogo-ficcionista Darcy Ribeiro, publicados durante a década de 1980, para mostrar a relação da obra ficcional de Darcy Ribeiro com o conceito de transculturação narrativa desenvolvido por Ángel Rama, assim como a adesão do escritor brasileiro ao projeto literário proposto pelo crítico uruguaio, em 1970. Rama vê na literatura a possibilidade de libertação do domínio estrangeiro, por meio da intelectualidade oponente ao neocolonialismo, e elabora um método específico para harmonizar, na superfície da narrativa, as culturas opostas, por meio de um sistema crítico de exaltação literária que valoriza a capacidade de promover a utopia de um processo de modernização compartilhado e construído de forma coletiva, livre da barbárie das oligarquias políticas, através de um autor letrado, proveniente de um estrato social e cultural intermediários. A antropologia contribuiu de forma significativa na teoria de Rama que, por sua vez, dedica o livro Transculturación narrativa en América Latina a Darcy Ribeiro e a John Murra. Para Rama, através da literatura, tornar-se-ia possível integrar a América Latina a partir de uma síntese harmônica, que se daria a partir da comunhão de culturas opostas que, por sua vez, possibilitaria, através de sua síntese, uma nova cultura. A integração das diferentes culturas promoveria a unificação do subcontinente e a possível reintegração da identidade cultural latino-americana. Rama tenta resolver, no plano simbólico da criação literária, as tensões formadas por contradições que se encontram instaladas na consciência histórica e cultural, e busca alcançar o equilíbrio e a harmonia por meio da união da intelectualidade. Durante o exílio, Darcy Ribeiro teve um fértil diálogo com Ángel Rama e sua geração e salienta o papel do intelectual nesse contexto. O recorte realizado procura apresentar, na primeira seção, o processo de construção de Darcy Ribeiro ficcionista. A segunda seção apresenta não apenas o diálogo do romance Maíra com a perspectiva teórica de Ángel Rama, mas também evidencia que o romance de estreia do autor montesclarense é matriz para suas demais obras ficcionais. A terceira, quarta e quinta seções assinalam como Darcy Ribeiro envereda seu projeto literário pós-Maíra. Os resultados mostram que os romances do escritor brasileiro suscitam, a partir de seus vários narradores, uma reflexão sobre os conflitos persistentes no Brasil. No plano da forma, em todos os romances, Ribeiro promoveu o equilíbrio dos discursos opostos e harmonizou, em sua urdidura ficcional, os diferentes gêneros textuais na superfície do texto. Entretanto, no nível dos temas, o narrador não estabelece em Maíra, O mulo e Migo a integração harmônica entre as diferentes culturas. Na última seção, mostramos que a utopia proposta por Rama acontece em Utopia Selvagem: saudades da inocência perdida: uma fábula, cujo desenlace da narrativa sugere, através da ascensão do índio Calibã, a união e elevação da América Latina.