Relações entre a evolução geomorfológica, reconstituição paleoambiental e a formação da turfeira da Campina do Encantado no Vale do Ribeira do Iguape

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Reis, André Luiz Miranda
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11140/tde-02082024-100807/
Resumo: As turfeiras, constituídas por Organossolos, apresentam sinais preservados que permitem sua utilização na reconstituição de condições pretéritas. Os solos orgânicos permitem o registro de mudanças ambientais, uma vez que a matéria orgânica configura um arquivo de processos pedogenéticos. No Vale do Ribeira (SP), ocorrem extensas áreas de Organossolos formadas em ambientes estuarino-fluviais e/ou fluviais- continentais. As turfeiras dessa região, de clima tropical quente e úmido e de baixa altitude, são importantes no armazenamento de carbono, destacando-se como ecossistema de interesse, especialmente para a mitigação das mudanças climáticas. Objetiva-se compreender a relação entre a sequência de ambientes deposicionais (marinho, lagunar e fluvial), as formas de relevo, os materiais e processos associados à formação de uma turfeira tropical no sudeste do Brasil. Além disso, busca-se reconstituir as mudanças ocorridas na vegetação, associadas às variações do nível relativo do mar (NRM). Para isso, foram coletados perfis de Organossolos e Cambissolos situados em diferentes compartimentos do relevo no Parque Estadual da Campina do Encantado (PECE), no município de Pariquera-Açu, no estado de São Paulo. Dentre os procedimentos, foram realizadas análises de granulometria e da fração areia, datação por 14C e Luminescência Opticamente Estimulada (LOE), geoquímica elementar e isotópica (δ13C, δ15N, C, N e C/N), análises de palinomorfos polínicos e não polínicos e mapeamento das unidades morfológicas. As variações do NRM que se sucederam durante o Pleistoceno superior e Holoceno contribuíram para a diversidade das unidades morfológicas mapeadas. As unidades fluviais, como Backswamps, Elevações intraterraço, Planície - Nível Principal, Terraço do Encantado, Terraço fluvial baixo e Turfeira, estão distribuídas em várias cotas altimétricas em uma área predominante plana, enquanto as unidades interfluviais, como Colinas e Morrotes do Baixo Ribeira, encontram-se em cotas mais elevadas. A análise dos perfis de Cambissolos (P4 e P5) indicam que a unidade em que estão situados, o Terraço do Encantado, teve sua gênese durante o Pleistoceno, enquanto, o P6, localizado no barranco do rio Pariquera Açu (Planície nível principal), foi formado durante o Holoceno. Já os perfis de Organossolos na unidade de Turfeira também são desse último período. Durante o último período transgressivo pleistocênico, o NRM se elevou submergindo toda a área do PECE. Com a subsequente descida do nível do mar em mais de 100 m, toda a plataforma continental foi exposta que resultou no rebaixamento do nível de base. Em resposta a isso, os rios erodiram e entalharam os sedimentos colúvio-aluvionares, formando vales incisos intraterraços pleistocênicos. Por volta de 7.000 anos AP, a elevação do NRM estabeleceu um ambiente estuarino-lagunar, que submergiu a vegetação ocupante do leito do vale em forma de uma paleolaguna. Esse ambiente favoreceu a instalação da prática de pesca por comunidades construtoras de sambaquis, visto que os recursos eram mais acessíveis quando comparadas às águas abertas do oceano. Entre 5.657-3.771 anos cal AP, foi registrada a subida máxima do NRM e no final desse estágio, a paleolaguna se desconectou com a descida do nível do mar. Esse ambiente progressivamente foi se transformando em uma lagoa devido à menor influência de água marinha. Essa lagoa foi colonizada por plantas que, ao longo do tempo, gradualmente, resultou no preenchimento progressivo da área com matéria orgânica (turfa) dando lugar à paludização da lagoa. Entre 3.771-2.247 anos cal AP, ocorreu a formação da Floresta de Restinga Paludosa permanentemente inundada, formados principalmente por plantas pioneiras, que prepararam o ambiente para a colonização das plantas secundárias correspondentes a floresta paludosa. A partir de 2.247 anos cal AP até o presente, houve a diminuição das ervas e aumento na concentração de árvores e arbusto, indicando a instalação de uma Floresta de Restinga Paludosa periodicamente inundada. Essa Floresta indicou uma elevada variedade de táxons polínicos, sugerindo a sucessão de diferentes ambientes que ocorreram durante o Holoceno médio no PECE. Essa sucessão influenciou a composição e distribuição das comunidades vegetais, levando a uma sucessão ecológica ao longo deste período.