Vivência de adoecimento e cuidados em saúde mental: estudo compreensivo e longitudinal a partir da alta da internação psiquiátrica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Frateschi, Mara Soares
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-29062020-114821/
Resumo: A atual Política Nacional de Saúde Mental, apoiada nas premissas da Reforma Psiquiátrica, prevê a consolidação de práticas de cuidado no território, inserindo as questões relacionadas ao sofrimento mental no âmbito da comunidade, diferentemente da realidade associada ao modelo manicomial que previa a retirada do convívio em sociedade das pessoas que não correspondiam a um determinado padrão de comportamento. Nesse cenário, a atenção à crise configura um eixo estratégico tencionando para que serviços e profissionais utilizem novas tecnologias de cuidado em saúde mental visando superar a lógica manicomial. A internação psiquiátrica em unidades especializadas visa oferecer retaguarda aos casos em que foram esgotadas as possibilidades de atendimento em serviços extra-hospitalares. O objetivo desta pesquisa foi compreender a vivência de adoecimento e cuidados em saúde mental, sob a perspectiva de pacientes e familiares, em estudo longitudinal realizado após a alta da internação psiquiátrica. As participantes foram três mulheres, que estiveram internadas em Hospital Especializado em Psiquiatria em decorrência do diagnóstico de Transtorno Afetivo Bipolar, e suas respectivas familiares. Foram realizadas três entrevistas abertas e individuais com cada participante, com intervalos de dois meses entre os encontros. Além disso, foi realizada observação participante e consulta ao sistema informatizado do Hospital. As 18 entrevistas foram gravadas em áudio e transcritas, e os registros da observação participante compuseram um diário de campo. O material foi submetido à análise qualitativa, tendo a Fenomenologia clássica como referencial teórico-metodológico. A análise foi desenvolvida em três seções pautadas na intencionalidade fenomenológica: 1) \"Descrição sintética das histórias de vida e circunstâncias ligadas ao adoecimento\", que apresenta de forma descritiva a trajetória das participantes com foco sobre o adoecimento; 2) \"Caminhos percorridos na rede pública de saúde\", que aborda os cuidados em saúde mental recebidos nos diferentes serviços, incluindo a espera pela vaga nos serviços de urgência, o período de internação no Hospital e o acompanhamento recebido após a alta; 3) \"Contexto atual e desejo de retomada da vida\", que compreende as referências feitas pelas participantes sobre o momento atual e os desejos de que as circunstâncias pudessem ser melhores. Deparamo-nos com as histórias de vida das participantes nos âmbitos de indivíduo, família e comunidade. Situações de pobreza, abandono, luto, violência, desemprego, entre outras, foram fatores por elas referidos como associados à condição de sofrimento mental que culminou no desencadeamento da crise psiquiátrica e na necessidade da internação. Observamos práticas ainda muito pautadas no saber biomédico, tendo a medicação como recurso mais importante e prioritário. Conforme as ações em saúde permanecem centradas nos sintomas e medicações, uma série de possibilidades de saúde e de vida deixam de ser exploradas, e a doença vai se consolidando enquanto parte da identidade da pessoa. Consideramos que a aproximação feita com as participantes, a partir do olhar fenomenológico, pode contribuir para o desenvolvimento de práticas inovadoras em saúde, partindo da possibilidade de colocarmo-nos diante da realidade e do ser humano, buscando apreender os sentidos constituídos pelo usuário em seu percurso sócio-histórico, em uma postura de abertura em direção à Pessoa que busca cuidado.