Dentro e fora da casinha: reflexões sobre a experiência na assistência domiciliar em saúde mental a partir da psicanálise vincular 

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Khouri, Marjorie El
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-04092017-163754/
Resumo: A reforma psiquiátrica teve como premissa o fim dos manicômios e atualmente observa-se que há indivíduos que continuam em situação de isolamento, mas no próprio domicílio. Nesse sentido, a Atenção Domiciliar (AD) é uma alternativa de intervenção àqueles que não chegam aos serviços de saúde. Esta dissertação tem como objetivo tecer reflexões sobre as especificidades da AD em saúde mental como modalidade interventiva em famílias cujo modo de vinculação é considerado psicótico, a partir da psicanálise vincular. Busca-se compreender de que forma se dá a transferência dessas famílias no domicílio, bem como refletir sobre as intervenções nesse setting terapêutico. Para tanto foram utilizadas cenas construídas a partir da experiência clínica da pesquisadora enquanto profissional da AD e das quais foram elaboradas as reflexões. É uma investigação que se insere no campo das pesquisas psicanalíticas, em que o inconsciente e suas manifestações clínicas são o objeto de estudo. O caminho percorrido neste texto foi pensar o domicílio como local de intervenção a partir dos conceitos de setting terapêutico, transferência e contratransferência. Sobre o setting discutiu-se a sua multiplicidade de possibilidades, de forma que a flexibilização do enquadre tradicional favoreceu as intervenções. Compreende-se que a casa, nessas famílias, é usada como barreira concreta para separar o dentro e o fora, entretanto, se as paredes podem ser utilizadas como defesa, elas dificultam o \"entre\". A AD em saúde mental tem por objetivo fazer uma ponte entre diferentes espaços - hospital/ casa e casa/serviços de saúde. Assim, foi utilizado o conceito de intermediário de Kaës para entender as intervenções do psicólogo que favoreçam essas funções de ligação, como entrar e sair da casa pelo terapeuta, além do uso de recursos gráficos e da construção de histórias; acrescido da compreensão freudiana acerca do jogo do carretel (Fort- dá), que tendo também uma função intermediária favorece a simbolização. Observou-se que se inicialmente foi difícil a escuta dos pacientes, pela mudez ou pela fala delirante, ao longo do acompanhamento houve a produção de sonhos e metáforas por parte dos mesmos, o que possibilitou uma ressignificação de seus sintomas iniciais - a restrição domiciliar. Além disso, no aspecto da função de ligação, evidenciou-se como crucial o estabelecimento do vínculo terapêutico junto aos pacientes, o que se estende a qualquer profissional da equipe. O trabalho vincular acontece quando há uma transformação mútua, não apenas do paciente mas do profissional, o que exige mudanças nas formas de atuação. Nesse sentido se fez necessário da terapeuta/pesquisadora \"sair da casinha\", abrindo-se ao modo possível desses atendimentos acontecerem. Se na clínica psicanalítica tradicional o recurso verbal é o principal instrumento terapêutico, nessa experiência outros recursos ganharam importância. Conclui-se, então, que as famílias que participaram desta investigação não poderiam ser abordadas no setting tradicional, tensionando conceitos que foram construídos a partir dele e, propiciando o surgimento de outras propostas terapêuticas