Educação, trabalho voluntário e responsabilidade social da empresa: \"amigos da escola\" e outras formas de participação.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Souza, Silvana Aparecida de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-16062008-103840/
Resumo: Trata-se de pesquisa na qual se procura as intersecções entre educação, trabalho voluntário e Responsabilidade Social da Empresa (RSE), no momento histórico atual da sociedade capitalista, concernente ao que se convencionou chamar \"acumulação flexível\". O projeto \"Amigos da Escola\", implementado pela Rede Globo de Televisão, é o maior projeto de RSE em educação no Brasil e incentiva o desenvolvimento de trabalho voluntário em escolas públicas. A análise demonstra que as modificações havidas nas últimas décadas no formato do trabalho voluntário na área social estão relacionadas com o conjunto de ações paliativas, desenvolvidas na vigência da sociedade capitalista, para atenuar a crise social provocada pelo desemprego estrutural, conjugado com o fato dos direitos sociais estarem sendo reduzidos ao mínimo possível e repassados para a responsabilidade individual. Além disso, as atividades de responsabilidade social melhoram a imagem da empresa que as desenvolvem e de seus produtos e, portanto, se traduzem em aumento de lucros. Com base na teoria do valor de Karl Marx, partindo do conceito de trabalho em geral como atividade potencialmente emancipadora e do trabalho na sociedade capitalista como atividade necessariamente estranhada e involuntária, e, considerando que atualmente, para compor o perfil da \"empregabilidade\" passou a ser necessário o desenvolvimento pelo trabalhador de atividades voluntárias de cunho social, conclui-se que o trabalho voluntário ligado às ações de RSE torna-se involuntário, forçado, e compõe o conjunto de atribuições e condições das relações de venda da força individual de trabalho na sociedade capitalista, pois aumenta a possibilidade da realização monetária da mais-valia na circulação, diante da concorrência. A educação é a área majoritariamente escolhida para o desenvolvimento das ações de RSE pelo fato de que propicia o distanciamento da perspectiva assistencialista, que possui um tom pejorativo e a aproximação da perspectiva da sustentabilidade social, que tem grande aceitabilidade. A pesquisa de campo, qualitativa, na forma de estudo de caso e de inspiração etnográfica, foi realizada em duas escolas públicas estaduais cadastradas no projeto \"Amigos da Escola\" e demonstrou: que a maior parte do trabalho voluntário individual é descontínuo e por isso em nada contribui para o desenvolvimento das atividades na escola; que há uma rejeição unânime em relação ao projeto da Rede Globo dentre os entrevistados, que não percebem qualquer melhoria ou mudança na escola após ter sido cadastrada; que, apesar da negação do projeto da Rede Globo, a natureza da participação dos voluntários na escola é idêntica à que é apresentada no material que o projeto envia a todas as escolas cadastradas, na qual a participação não está relacionada com processos de democratização da gestão e sim com a execução de tarefas previamente definidas; que as empresas escolhem escolas que atendem os grupos sociais mais carentes em termos econômicos para desenvolver suas ações de Responsabilidade Social, pois é onde a tensão social é mais latente; que, se o projeto \"Amigos da Escola\" oferece alguma vantagem, o é para a Rede Globo, que projeta para si uma imagem de empresa que investe em atividades sociais.