O discurso publicitário e o dizer da criança na construção dos sentidos sobre masculino e feminino

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2014
Autor(a) principal: Pereira, Marina Coelho
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Toy
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59140/tde-25082014-223327/
Resumo: Mulher e homem, a partir do final do século XX, dividem tarefas, realizam praticamente as mesmas atividades e disputam os mesmos espaços de trabalho. É esse o discurso com o qual temos contato, diariamente, e que nos leva a pensar que homem e mulher vivem, hoje, em condição de igualdade; ou quase. O discurso midiático, de maneira geral, coloca em circulação sentidos para masculino e feminino segundo os quais não há, na contemporaneidade, uma divisão de papéis e espaços para homem e mulher. Já o discurso publicitário sobre o brinquedo, especificamente, vai de encontro ao que diz a mídia, posto que há uma notável divisão entre o que é destinado a meninas e o que é legítimo para os meninos, em relação aos brinquedos. Cores, formas e temas apontam para com o que meninos e meninas podem ou não brincar, ponto que, muitas vezes, é corroborado pelos pais e/ou professores, quando no contexto escolar. Pensando nessas questões, o objetivo deste trabalho é analisar o discurso sobre o brinquedo, no discurso publicitário e nas vozes dos sujeitos da pesquisa, crianças de 4 a 6 anos de uma escola de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Ribeirão Preto-SP, a fim de compreender quais sentidos e representações de gênero circulam nesses espaços discursivos. Para tal, o dispositivo analítico que utilizamos, a Análise do Discurso pecheutiana, não impõe categorias previamente estabelecidas nem mesmo procura ver através do que é posto, o que seria um movimento limitado de interpretação de conteúdo. Pelo contrário, para nós analistas do discurso, fundamental é a materialidade do texto, especialmente, em sua opacidade. Dessa maneira, o olhar do analista estará sempre voltado às condições de produção do discurso, aos sujeitos discursivos e à ideologia que possibilita tanto a manutenção quanto a transformação dos sentidos. Como metodologia, selecionamos nosso corpus por meio de uma pesquisa em um site de busca, na internet. Utilizando as palavras-chave \"brinquedo\", \"menino\", \"menina\", escolhemos os sites melhor avaliados na lista e, a partir daí fomos selecionando textos escritos e visuais em sites e blogs. Além disso, foram realizadas entrevistas com as crianças em horário de aula, e os sujeitos responderam a perguntas previamente selecionadas, bem como a questões que surgiram no momento. Com as análises realizadas, o que temos como resultado é que o brinquedo é discursivizado de maneira que determina, em certa medida, o que é legitimado para menino e menina e o que se mantém interditado para ambos, contrariando os sentidos que circulam, na contemporaneidade, de que homens e mulheres podem cuidar de casa, dos filhos, trabalhar nos mesmos lugares, ou seja, de que não há mais uma rígida separação de gênero. Por outro lado, existem rupturas pois nos textos analisados sentidos de transformação aparecem tanto no discurso publicitário quanto nas vozes das crianças e o novo emerge encontrando espaço em alguns discursos. Assim sendo, temos que, ainda que seja perceptível uma mudança na ordem dos papéis desempenhados por homem e mulher na sociedade atual, quando analisamos o discurso publicitário sobre o brinquedo e escutamos a voz do sujeito-criança, constatamos que os sentidos dominantes ainda se apresentam engessados em discursos que sustentam que meninos e meninas não brincam com os mesmos brinquedos. Se as propagandas e anúncios publicitários destinados à criança - especialmente pela TV insistem em repetir tais sentidos, defendemos que a escola deve constituir-se como um contraponto ao apelo publicitário e ser um lugar discursivo de (trans)formação e o professor deve colocar em curso discursos abertos à polifonia, os quais coloquem os sujeitos-alunos em contato com inúmeras possibilidades de sentidos e interpretações e, desse modo, os alunos terão a oportunidade de aprender que o sentido pode vir a ser outro.