Efeitos da idade e escolaridade em linguagem na atividade cerebral: um estudo de ressonância magnética funcional

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Cotosck, Kelly Regina
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5151/tde-27102021-141208/
Resumo: Os efeitos da idade e da escolaridade no processamento de linguagem pelo cérebro não são bem conhecidos. Este trabalho foi desenvolvido visando entender como estes dois parâmetros modulam o processamento de linguagem e, para tal, foram selecionadas pessoas com diferentes níveis de idade e escolaridade para mapeamento cerebral por meio de Ressonância Magnética funcional (RMf). A análise dos resultados foi realizada com ênfase em três sistemas cerebrais: rede ventral de linguagem (VS), rede dorsal da linguagem (DS) e rede de controle frontoparietal (FPC). Foram selecionados voluntários saudáveis para compor três grupos de estudo: adultos jovens entre 21 e 37 anos de idade com mais de 15 anos de escolaridade (grupo de adultos jovens de alta escolaridade AJAE); idosos com mais de 60 anos, com menos de seis anos de escolaridade ou analfabetos (idosos de baixa escolaridade IBE); e idosos com mais de 15 anos de escolaridade (idosos de alta escolaridade IAE). Tais voluntários foram selecionados na própria comunidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Palo (HC-FMUSP) e em Centros de Integração de Educação de Jovens e Adultos (CIEJAs) da cidade de São Paulo. Estes indivíduos foram avaliados em relação ao alfabetismo funcional por meio do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) e o processamento de linguagem foi avaliado por meio de Ressonância Magnética funcional (RMf). Os exames de RMf foram realizados no HC-FMUSP em equipamento de 3.0 T. Para analisar o processamento de linguagem nestes grupos, foi utilizada tarefa auditiva em que o mesmo texto padronizado foi apresentado em duas versões: uma versão em língua nativa (português) e outra em língua desconhecida (japonês). Gravações do texto com locução em entonação neutra por profissional bilíngue foram apresentadas auditivamente por meio de fones de ouvido enquanto imagens de RMf eram adquiridas. Os voluntários foram instruídos a apertar um botão todas as vezes em que uma palavra-alvo era ouvida. Para condição de controle de percepção auditiva simples, foram apresentados tons senoidais, sendo os voluntários orientados a pressionar o botão de resposta quando ouvissem um tom-alvo. A apresentação dos textos foi realizada em blocos de 30 s com as três condições: língua nativa (LN), língua desconhecida (LD) e baseline (BL). As imagens de RMf foram analisadas por meio de softwares de domínio público (FSL, Universidade de Oxford, Reino Unido e MRIcroGL, Universidade da Carolina do Sul, EUA). A resposta cerebral foi maior em idosos em regiões da rede VS (regiões occipitais), além de regiões parietais e temporal esquerda (cluster-based ANOVA; p < 0,05 FWE; AJAE, n=24; IAE, n=21), comparando-se LD > LN em idosos/jovens (efeito idade). A resposta cerebral foi maior para alta escolaridade em regiões presentes na rede FPC (regiões frontoparietais do hemisfério direito) e regiões presentes na rede VS (regiões occipitais), além de regiões cerebelares (cluster-based ANOVA; p < FWE; IBE, n=15; IAE, n=21), comparando-se LD>LN em idosos alta/baixa escolaridade (efeito escolaridade). As regiões da rede DS (bi-parietais e temporal esquerda) (cluster-based ANOVA; p < 0,05 FWE; AJAE, n=24; IBE, n=15; IAE, n=21) mostraram maior atividade quanto menor a idade, controlando-se para o efeito escolaridade e comparando-se LD > LN. As regiões da rede FPC (regiões órbito-frontais do hemisfério direito), além de regiões cerebelares (clusterbased ANOVA; p < 0,05 FWE; AJAE, n=24; IBE, n=15; IAE, n=21), mostraram maior atividade quanto maior a escolaridade, controlando-se para o efeito idade e comparando-se LD > LN; e menor resposta cerebral nas regiões do córtex opercular central direito e giro pré-central direito. Em conclusão, há efeitos da idade e da escolaridade no processamento da linguagem em áreas distintas do cérebro nas principais redes de linguagem. Este resultado permite desenho de estudos para melhor compreensão de processos de aprendizagem ou de mecanismos de doença em relação à idade e à escolaridade na população brasileira