Estadiamento Laennec e sua relação com desfechos clínicos da cirrose pelo vírus da hepatite C

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Neves, Marina Seixas Studart e
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5168/tde-09122021-140901/
Resumo: Introdução. Com base na espessura do septo fibroso e no tamanho dos nódulos, a classificação histológica de Laennec subdivide a cirrose em três grupos (4A, 4B e 4C). Alguns estudos transversais demonstraram relação desse sistema com o estádio clínico e com o grau de hipertensão portal. Entretanto, os dados, são escassos no que diz respeito à correspondência entre essa classificação e o prognóstico do paciente com cirrose. Objetivos. Principal correlacionar os graus histológicos de fibrose hepática (3, 4A, 4B e 4C da classificação de Laennec) com a gravidade da doença, a fim de predizer risco de eventos clínicos relacionados à cirrose por hepatite C. Secundário relacionar outros achados histológicos da biópsia hepática (quantidade de vasos nos septos, espessura da parede vascular, diâmetros dos vasos e dilatação sinusoidal) com a ocorrência de complicações da cirrose; elaboração de um escore clínico-laboratorial capaz de predizer pacientes com estádios mais avançados na classificação Laennec e com risco aumentado para desenvolver cirrose descompensada. Métodos. Foram incluídos 80 pacientes consecutivos com diagnóstico histológico de fibrose avançada em portadores de hepatite C (F3 n=31; F4 n=49). Os critérios de inclusão foram: a) idade maior ou igual a 18 anos, b) diagnóstico de hepatite C prévia ou atual documentada por via de reação de cadeia polimerase (PCR), e c) ter biópsia hepática demonstrando estadiamento de fibrose maior ou igual a F3. Os critérios de exclusão foram: a) outras etiologias de cirrose, ainda que em associação com positividade do RNA do vírus da hepatite C ou associação com o vírus da imunodeficiência humana (HIV); b) biópsias com fragmentos excessivamente pequenos que, assim, não permitiram a subclassificação da cirrose, ou indisponíveis para revisão; c) tempo de seguimento clínico menor ou igual a três anos da época da biópsia até o primeiro tratamento medicamentoso direcionado ao vírus da hepatite C; d) tratamento medicamentoso para hepatite C, durante o segmento clínico, após realização da biópsia hepática; e) ausência, dos prontuários pesquisados, de dados clínicos. O desenho do estudo foi retrospectivo, longitudinal, unicêntrico. Os procedimentos previstos no estudo foram a) consulta nos prontuários dos pacientes, b) consulta de exames laboratoriais, c) consulta de endoscopia digestiva alta e ultrassonografia abdominal, e d) revisão de lâmina de biópsia hepática. Os desfechos clínicos foram ascite, peritonite bacteriana espontânea, sangramento digestivo, encefalopatia hepática, carcinoma hepatocelular, síndrome hepatorrenal, síndrome hepatopulmonar e hipertensão portopulmonar. Na análise estatística, foi realizada uma exploração descritiva, resultando em tabelas de frequência para variáveis qualitativas, que contaram, ainda, com a inclusão do intervalo de confiança para a proporção (IC95%). Estatísticas descritivas, incluindo média, desvio padrão, mediana, mínimos e máximos, foram calculadas para resumir as variáveis quantitativas contínuas e discretas. Um escore clínico-laboratorial foi proposto para predizer a classificação Laennec com as variáveis: varizes de esôfago (V1), veia porta de calibre aumentado (V2), ascite (V3), esplenomegalia (V4), plaquetas (V5), INR (V6) e GGT (V7). Resultados. Foi verificada a homogeneidade na distribuição da amostra quanto ao gênero (58.8% do sexo masculino) e ao grau de fibrose pela classificação Laennec (Laennec 3 17.5%, Laennec 4A 27,5%, Laennec 4B 27,5% e Laennec 4C 26,3%) . Houve mais varizes de esôfago, esplenomegalia e veia porta de calibre aumentado nas categorias Laennec 4B e 4C (com p valor de 0,003, 0,04 e 0,02, respectivamente). Em relação ao MELD, CHILDPUGH e óbitos, não se registrou qualquer associação com a subclassificação de fibrose. Ao avaliar as outras características da biópsia hepática, houve significância estatística para três parâmetros, atividade de interface mais frequente em Laennec 4A, em relação a 4B e 4C (p 0,012), a vasculatura total do septo de moderada a acentuada e binucleação hepatocítica foram mais frequentes em Laennec 4B e 4C, com p valor de 0,04 e 0,002, respectivamente. O escore clínico-laboratorial criado teve acurácia de 81,2% em classificar os pacientes em Laennec 4C e de 77,6% em predizer casos com cirrose descompensada. Conclusão. Este estudo mostrou boa associação da classificação Laennec com sinais de hipertensão portal (calibre aumentado da veia porta, varizes de esôfago, esplenomegalia). A hepatite de interface, a vasculatura do septo e binucleação hepatocítica são possíveis parâmetros histológicos adicionais a serem utilizados em associação com a classificação, sendo imprescindível maior validação. O escore clínico-laboratorial criado mostrou boa aplicação como ferramenta não invasiva em predizer Laennec 4C e cirrose descompensada, necessitando de mais estudos que comprovem estes achados