Mulheres que morrem, homens que narram: patriarcalismo e violência em S. Bernardo, Lavoura arcaica e Em câmara lenta

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Cordeiro, Leandra Postay
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-03122021-180655/
Resumo: A presente tese adota como objetos de pesquisa os livros S. Bernardo (publicado em 1934), de Graciliano Ramos, Lavoura arcaica (publicado em 1975), de Raduan Nassar, e Em câmara lenta (publicado em 1977), de Renato Tapajós, propondo-se a analisá-los considerando principalmente dois aspectos comuns aos três: a narrativa em primeira pessoa empreendida por um homem e a morte das figuras femininas centrais aos enredos. O estudo parte da hipótese de que esta repetição, presente na literatura brasileira, pode ser compreendida e analisada como historiografia inconsciente, conceito de Theodor Adorno (2013). Em cada uma das três obras literárias mencionadas, há uma narrativa em primeira pessoa, empreendida por um homem, em um tempo posterior à morte da mulher amada. Nos três casos, é possível localizar um ambiente autoritário, hostil principalmente às figuras femininas, com ocorrência marcante da violência física, que chega à sua manifestação extrema: a morte. Em S. Bernardo, vê-se um narrador senhor de terras, ciumento e autoritário, que impõe padrões hierárquicos a todas as relações sociais, portando-se como chefe inclusive frente à esposa, Madalena. Em Lavoura arcaica não são os padrões patriarcais daquele que conta a história, André, que vão resultar na morte da moça, mas sim os do pai. Este mata a filha, Ana, ao saber de uma relação incestuosa entre ela e André. Em câmara lenta, por sua vez, oferece ao leitor uma narrativa transcorrida em contexto semelhante àquele em que o texto foi composto: o Brasil ditatorial da década de 1970. Uma das cenas de maior tensão da obra corresponde à tortura da companheira do narrador - ambos militantes -, chamada apenas de \"ela\". O episódio de violação do corpo tem como desfecho o assassinato da moça. O presente trabalho se concentra na análise dos narradores em primeira pessoa em cada uma das obras, assim como da configuração das personagens femininas. As obras selecionadas serão analisadas sob uma perspectiva histórica, adotando como principal referencial teórico as ideias de Theodor Adorno, a partir da articulação entre arte e sociedade.