Da violência à ética: considerações sobre o enquadre de entrevistas com crianças no âmbito do judiciário

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Ishara, Yara
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-10112016-153043/
Resumo: A presente pesquisa visa refletir sobre o lugar e o papel da psicologia no contexto do judiciário, propondo-se a realizar uma aproximação entre as áreas da psicologia e do direito, por meio do campo da ética. Objetiva, de forma mais específica, discutir o enquadre de entrevista com crianças que sofreram experiências de violência, dispondo-se a fazê-lo a partir de uma perspectiva assentada no ethos humano. Metodologicamente o trabalho constitui-se como pesquisa qualitativa, fundamentada no método clínico. Configura-se ao redor de situações de atendimento referentes a crianças que sofreram experiências de violência, tiveram os pais destituídos do poder familiar e encontravam-se sob a responsabilidade legal do poder judiciário. Como procedimento são utilizadas narrativas transferenciais de entrevistas, as quais foram estruturadas por meio de desenhos e histórias. A análise tem como principais referências as concepções de autores como Winnicott e Safra. Prioriza aspectos associados a transicionalidade e ao que se entende como necessidades éticas da condição humana - dentre elas, a necessidade de ser reconhecido e compreendido em sua singularidade, encontrar um lugar na subjetividade do outro e uma morada no mundo dos homens. Dentro dessa perspectiva, o termo ethos é tomado prioritariamente na pesquisa como lugar, campo relacional e posicionamento diante do outro. Considera-se, em contrapartida, violência, toda ação que reduz o ser humano à condição de coisa/objeto ou repercute no sentido do esfacelamento ou fratura do seu ethos. Entende-se, por sua vez, como intervenção ética o posicionamento diante do outro que preserva a sua condição de pessoa e favorece o vir a ser de si mesmo. A partir desse posicionamento epistemológico/ético e político, a pesquisa busca pensar um modelo de enquadre que considere a criança não só em sua condição biográfica e ôntica, mas em sua dimensão ontológica. Procura estruturar uma proposta de entrevista que possa, por um lado, atender à demanda e exigência institucionais, fornecendo subsídios para tomada de decisão judicial sobre o caso, mas por outro, constitua-se como uma intervenção ética, sob a forma de um olhar que não objetifique/coisifique a criança e se faça testemunho frente a fraturas éticas. Um olhar que reconheça a criança em singularidade, favoreça uma comunicação mais espontânea e profunda, 12 dialogue a partir do seu idioma pessoal e sustente o seu vir a ser. Em última instância, a pesquisa visa pensar em um enquadre de entrevista no contexto jurídico, que seja mais justo à condição humana