O endereçamento em textos escolares: sobre o seu caráter múltiplo

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Siqueira, Michele
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-14082019-124541/
Resumo: Este trabalho se propõe a analisar a construção do endereçamento nos textos de alunos do primeiro ano do ensino médio de uma escola da rede pública de ensino. O conceito de endereçamento que se toma é o de Bakhtin (2011), segundo o qual o endereçamento é o traço constitutivo e fundamental de todo enunciado. A concepção de escrita e enunciado que subsidiam nosso estudo se fundamenta em uma perspectiva enunciativo-discursiva que tem respaldo nos estudos de Pêcheux (1969, 1975, 2002), Voloshinov/Bakhtin (1926, 1930); entendendo a escrita não apenas como registro ou tecnologia, mas como um modo de enunciação (CORRÊA, 2013). A hipótese levantada é a de que os textos produzidos pelos alunos na esfera escolar apresentam múltiplo endereçamento, isto é, além do endereçamento previsto pelo gênero discursivo proposto, apresentam outros não previstos. A metodologia que orientou a percepção do múltiplo endereçamento foi a de uma perspectiva etnográfico-discursiva (CORRÊA, 2011) de observação dos dados aliada ao paradigma indiciário proposto por Ginzburg (1989) como um modelo epistemológico adequado para pesquisas no campo das ciências humanas. O procedimento quanto à determinação dos indícios foi a busca por marcas de dialogia presente nas rupturas da interlocução prevista pelo gênero a partir das quais foi possível perceber o múltiplo endereçamento do texto. A análise possibilitou a caracterização de dois tipos de endereçamento: um previsto pelo gênero discursivo, nomeado de endereçamento transparente e outro, mais difuso, da ordem do discurso, nomeado de endereçamento opaco. Para explicitação do endereçamento opaco, buscou-se pelas rupturas genéricas, argumentativas e de voz presentes nos textos. Além do endereçamento ao destinatário previsto pelo gênero, contatou-se o endereçamento ao professor, como um destinatário sempre representado, além de outros interlocutores como colegas de classe, professores de outras disciplinas, a família, a escola como instituição. Tal constatação lança luz sobre problemas textuais, comumente interpretados como inadequação ou erro, defendendo a compreensão dessas inadequações como decorrentes do processo enunciativo-discursivo pelo qual o escrevente se insere na escrita.