Mecanismos celulares e neuroquímicos do efeito tipo-antipsicótico do canabidiol: envolvimento dos receptores 5-HT1A e CB2

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Silva, Naielly Rodrigues da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17133/tde-05112021-105109/
Resumo: A esquizofrenia é um transtorno complexo e altamente incapacitante. Evidências sugerem que uma hipofunção dos receptores NMDA estaria envolvida nos sintomas positivos, negativos e cognitivos da esquizofrenia. Dados pré-clínicos e clínicos indicam que o canabidiol (CBD), um composto não-psicotomimético presente na planta Cannabis sativa, induz efeitos tipo-antipsicóticos. Estudos realizados pelo nosso grupo mostram que o tratamento repetido com CBD preveniu e atenuou as alterações comportamentais induzidas pelo tratamento repetido com MK-801, uma antagonista dos receptores NMDA, em testes relacionados com os sintomas negativos e cognitivos da esquizofrenia. Apesar das evidências indicarem o possível efeito tipo-antipsicótico do CBD, o mecanismo de ação pelo qual este composto exerce este efeito ainda não está elucidado. Acredita-se que o sistema endocanabinoide e/ou o sistema serotoninérgico possam estar evolvidos. Portanto, no presente estudo, nós avaliamos se o tratamento repetido com CBD atenuaria as alterações comportamentais e moleculares induzidas pela administração repetida de MK-801 e o possível envolvimento dos receptores 5-HT1A e/ou CB2. Assim, camundongos C57BL/6J receberam injeções i.p. de MK-801 durante 14 dias. A partir do 15° dia, os animais receberam uma injeção de WAY100635, um antagonista de receptores 5-HT1A, ou AM630, um antagonista de receptores CB2, e 10 min depois receberam uma injeção diária de CBD durante 7 dias. Vinte e quatro horas após a última injeção, os animais foram submetidos à habituação e, no dia seguinte, foram submetidos ao teste de reconhecimento de objetos a curto prazo (ROC) e, 24 h depois, ao reconhecimento de objeto a longo prazo (ROL). Após os testes, os cérebros dos animais foram processados para avaliação de alterações moleculares. Para a avaliação dos efeitos moleculares de longo prazo, um grupo independente de animais foi submetido ao mesmo tratamento e os encéfalos foram retirados 21 dias após a última injeção de CBD. Foram avaliadas as alterações na expressão das proteínas parvalbumina e WFA, marcadores de proteína expressa em uma subclasse de interneurônios GABAérgicos e de redes perineuronais, respectivamente. Adicionalmente, foi realizada a identificação de células microgliais com o marcador Iba-1. O CBD atenuou os prejuízos nos testes de ROC e ROL induzidos por MK-801. Este efeito foi bloqueado pelo WAY100635, mas não pelo AM630. O tratamento repetido com MK-801 diminuiu a quantidade de células marcadas com PV+ e a intensidade da marcação de WFA co-localizada com PV+ (WFA/PV+) nas regiões do córtex pré-frontal (CPF) pré-límbico (PreL), área ventral do CA1 (vCA1) e subículo ventral (vSub) do hipocampo, mas não no córtex pré-frontal infra-límbico (InfraL). O CBD atenuou o efeito do MK-801 sobre a diminuição de células PV+ e WFA/PV+ no PreL, vCA1 e vSub. O efeito do CBD sobre a diminuição de células PV+ induzida por MK-801 no PreL foi observado até 21 dias após o final do tratamento. Curiosamente, os efeitos do CBD sobre a diminuição de PV+ e WFA/PV+ foi bloqueado pelo WAY100635 ou AM630 no vCA1 e vSub, mas não no PreL. Em relação à ativação microglial, o tratamento repetido com MK-801 induziu o aumento de células Iba-1-positivas apresentando um fenótipo reativo em todas as regiões observadas. O CBD atenuou a ativação microglial em todas as regiões analisadas de maneira dependente de receptores 5-HT1A ou CB2. Além disso, considerando que o desbalanço dopaminérgico observado na esquizofrenia envolve uma diminuição de dopamina (DA) na via mesocortical, no presente estudo empregamos a técnica de microdiálise para investigar se o CBD, por meio de um mecanismo de 5-HT1A, aumentaria as concentrações extracelulares de DA no CPF. Ratos Wistar tiveram cânulas de microdiálise implantadas no CPF medial. Após um período inicial de estabilização, quatro amostras basais foram coletadas (20 min cada). Em seguida, os animais foram pré-tratados i.p. com WAY100635 e 10 minutos após, receberam CBD ou veículo e amostras sucessivas de dialisado foram coletadas. As concentrações de DA foram medidas por HPLC. O aumento na liberação de DA foi potencializado pela coperfusão com nomifensina. Para avaliar o possível efeito local do CBD os animais foram infundidos, via diálise reversa, com CBD ou veículo. O CBD aumentou significativamente as concentrações de DA extracelular no CPF após a injeção. Este efeito foi bloqueado pelo tratamento prévio com WAY100635. A infusão local de CBD também causou um aumento significativo, embora menor, nas concentrações de DA. Juntos, esses resultados indicam que o CBD atenuou as alterações comportamentais tipo-esquizofrenia e as alterações moleculares observadas após a administração repetida de MK-801. Estes dados reforçam a proposta de que o CBD possui propriedades antipsicóticas e ainda, semelhante a outras drogas antipsicóticas atípicas, o CBD aumenta as concentrações de DA no CPF através de um mecanismo mediado por 5- HT1A.