Felicidade e identidade: a ressignificação da memória em Espinosa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Teixeira, Ravena Olinda
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8133/tde-27022020-155516/
Resumo: Na quinta e última parte da Ética, Espinosa deixa claro que existe um caminho que conduz o homem à liberdade e à felicidade. No desenrolar das proposições percebemos que o caminho é a potentia intellectus, ou seja, o conhecimento verdadeiro. A partir da proposição 21 nosso filósofo afirma que tratará sobre a duração da mente considerada sem relação com o corpo. No escólio da proposição 38, Espinosa afirma que a felicidade se origina do terceiro gênero de conhecimento e, que por essa maneira de conhecer a mente humana pode ser de uma natureza tal, que as coisas que perecem com o corpo não tenham nenhum peso com relação àquilo que dela permanece. Essas duas passagens da quinta parte da Ética, além de dar espaço aos supersticiosos ao sugerir que o corpo e a mente humana tenham durações distintas, revelam a doutrina da eternidade da mente e constituem o cerne do problema que impulsiona nossa tese: a doutrina da eternidade da mente parece implicar que a salvação ou a felicidade que Espinosa propõe pelo terceiro gênero do conhecimento não envolve relação com o corpo. No entanto, conceber a mente humana sem relação com o corpo não é possível sem abrir mão de uma das mais polêmicas e inovadoras teses de Espinosa: de ser a mente apenas a ideia do corpo. Além disso, por ser uma negação do corpo, essa doutrina é por consequência uma negação da memória, já que a memória é constituída por ideias que surgem a partir das imagens do corpo. Com efeito, a partir da proposição 21 Espinosa escreverá sobre uma mente sem memória. Mas isso é mesmo possível? Concordamos que a filosofia de Espinosa quer eliminar a interpretação substancialista do ego e a falsa ideia de que existe um eu que permanece idêntico a si mesmo ao longo do tempo. É uma crítica clara e precisa ao sujeito pensado à maneira do cogito cartesiano. Porém, será que essa crítica implica dizer, pela forma como foi apresentada, que a identidade pessoal a partir dos dados da memória é imaginária? Será que dissolver essa ideia por meio do segundo e principalmente do terceiro gênero de conhecimento é um passo imprescindível para conquistar a felicidade? Em outras palavras, o que nós queremos investigar é se para alcançar a felicidade, Espinosa propõe que o eu seja aniquilado de nossa mente por não passar de uma ilusão que acarreta mais sofrimento do que alegria. E como isso seria possível sem implicar contradição no seio de uma filosofia imanente que pretende abolir o dualismo entre mente e corpo. Portanto, nosso trabalho versa sobre o papel da memória na construção da identidade e como ambas podem garantir ao corpo seu lugar de igualdade em relação à mente na conquista da liberdade e da felicidade humanas. Ou melhor, como o eu pode ser feliz na alma (mente) e de corpo inteiro.