A maloca Saracá: uma fronteira cultural no médio Amazonas pré-colonial, vista da perspectiva de uma casa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2016
Autor(a) principal: Bassi, Filippo Stampanoni
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-25042016-143132/
Resumo: Esta pesquisa pretende contribuir para o entendimento da formação e da manutenção de uma fronteira cultural no contexto do médio Amazonas, durante o período pré-colonial tardio. O objeto de estudo insere-se no âmbito do ápice demográfico na Amazônia central, decorrente da convergência de movimentos populacionais em larga escala, associados à expansão das duas últimas grandes tradições culturais pré-coloniais: a Polícroma da Amazônia e a Inciso-Ponteada. Tal período foi descrito ressaltando a ocorrência de fortes conflitos em um processo de reconfiguração cultural. Através de uma abordagem que considera as fronteiras como processos históricos, propomos que na região do baixo rio Urubu (AM), a partir do ano 1000 d. C., a penetração de elementos exógenos faça de contrapeso à formação de um estilo local, a tradição Saracá, capaz de incorporar tais elementos e naturaliza-los sobre a base de uma ideologia de persistência cultural. Portanto, a hipótese com a qual trabalhamos vira ao avesso a visão tradicional, ao sustentar que à base da formação dessa fronteira persistente tenhamos que admitir o desenvolvimento e a afirmação de uma política interacionista. Com o objetivo de testar tal hipótese, investigamos o contexto de uma casa, localizada no sítio arqueológico Bom Socorro (Itacoatiara-AM); partindo do pressuposto que o âmbito doméstico possa ser altamente informativo das relações que se instauram entre o nível local e o nível regional. A escavação de tal estrutura possibilitou inserir a variabilidade artefatual dentro da dimensão social de uma comunidade circunscrita. Os resultados apontam para um período de ocupação do sítio entre 1430 e 1650 AD, quando, a interação entre diferentes grupos na região tem levado a formação de grandes assentamentos, compostos por casas comunais dispostas segundo fileiras paralelas. No setor central da maloca foi encontrada uma área de consumo de alimentos, possivelmente associada ao âmbito político-convivial. As cerâmicas desse contexto condensam toda a variabilidade estilística regional, revelando a ocorrência de relações sociais que perpassam as fronteiras culturais. O estudo das relações estilísticas entre a cerâmica Saracá e os outros conjuntos demostra que essa tradição local compartilha muitos traços diagnósticos também com os estilos mais antigos; inclusive, é evidente uma forte semelhança iconográfica com a arte rupestre regional. Tais elementos apontam para a produção de um estilo local fortemente embasado na tradição, que possivelmente reflete a intenção de reificar uma fronteira social.