Traços, restos e laços de Frantz Fanon: contribuições clínicas emancipatórias e anticolonialistas à psicanálise

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Souza, Priscilla Santos de
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-18122024-173144/
Resumo: A tese discute profundamente a interseção entre psicanálise, teoria social e colonialismo, explorando como esses campos se entrelaçam na análise do sofrimento psíquico decorrente da colonização. Através de um diálogo complexo entre autores como Frantz Fanon, Jacques Lacan, Karl Marx e outros, o texto busca entender não apenas a natureza da violência colonial, mas também as estruturas sociais que a perpetuam e as resistências que surgem contra ela. Inicialmente, o texto aborda a teoria marxista como uma lente para entender a formação do Estado nacional brasileiro, destacando as implicações da colonização e da escravidão na estruturação social e política do país. Criticamente, questiona-se a quem serve o atual Estado nacional e como o discurso da democracia racial mascara as desigualdades raciais e sociais existentes. No segundo capítulo, a discussão se volta para a clínica fanoniana, explorando como Frantz Fanon, através de uma abordagem sociogenética, analisa o sofrimento psíquico dos colonizados e colonizadores. Fanon propõe métodos de tratamento que desafiam as hierarquias raciais e sociais, resgatando a resistência dos oprimidos contra as estruturas coloniais e sociais que os oprimem. O terceiro capítulo discute a relação entre identidade, identificação e transferência, sob a perspectiva de Fanon e Lacan, destacando como esses conceitos são cruciais para entender as dinâmicas de poder e subordinação na sociedade. O texto aborda criticamente o papel das instituições psicanalíticas na reprodução ou desconstrução dos marcadores sociais de identidade racial. No quarto capítulo, o trabalho explora a dialética do senhor e do escravo na obra de Hegel, Marx e Fanon, propondo uma reflexão sobre a universalidade do humano frente à particularidade das experiências coloniais e raciais. Fanon, em particular, desafia a ideia eurocêntrica de um \"homem universal\", argumentando que a verdadeira emancipação requer a superação das estruturas coloniais e a construção de novas formas de humanidade. O quinto capítulo investiga as teorias da linguagem de Saussure e Lacan, explorando como a alienação colonial se manifesta nos processos de linguagem e identidade. O texto questiona como a psicanálise pode contribuir para uma desalienação dos sujeitos colonizados, permitindo-lhes reconstruir suas identidades em termos não coloniais. O sexto capítulo, por sua vez, analisa as categorias de alienação e ideologia na filosofia marxista e na psicanálise, destacando como esses conceitos são essenciais para entender o sofrimento psíquico nas sociedades coloniais e pós-coloniais. A dissertação propõe uma abordagem política e clínica que desafia as estruturas de poder e promove a transformação social. Finalmente, nos dois últimos capítulos, intitulados \"Blida-Joinville e os impedimentos da desalienação colonial\" e \"Um passo dentro da revolução\", o texto examina a clínica de Fanon e os arquivos históricos relacionados à sua prática, buscando entender como suas ideias e práticas podem informar uma política contemporânea e estratégias clínicas que promovam a emancipação social e racial. Em síntese, a pesquisa propõe uma análise profunda das teorias psicanalíticas e da obra de Fanon como ferramentas para compreender e confrontar o impacto do colonialismo na psique individual e coletiva, destacando a importância de uma prática clínica que seja sensível às dinâmicas de poder e identidade presentes nas sociedades coloniais e pós-coloniais.