Resumo: |
O aumento da população humana trouxe, em consequência, o aumento da produção, consumo e descarte de vários produtos químicos empregados na medicina, agricultura, indústria e uso doméstico, entre outros. Em muitos corpos d\'água são frequentemente encontrados fármacos e defensivos agrícolas, como o 17 α-etinilestradiol (EE2) e da atrazina (ATZ). O EE2 é um hormônio sintético usado na formulação de contraceptivos orais, enquanto a ATZ é um herbicida amplamente utilizado na agricultura no combate de ervas daninhas. Os objetivos do presente trabalho foram avaliar a sensibilidade do cladócero tropical Ceriodaphnia silvestrii e comparativamente do cladócero de região temperada Daphnia magna ao hormônio EE2 em uma abordagem intergeracional; avaliar os efeitos do EE2 e da ATZ de forma isolada, quanto à toxicidade aguda e crônica em um representante do primeiro nível trófico (produtores primários), a microalga Raphidocelis subcapitata, e o efeito destes dois compostos em dois cladóceros, duas espécies nativas tropicais, Ceriodaphnia silvestrii e Ceriodaphnia rigaudi, como representantes do segundo nível trófico, o de consumidores primários. Foram realizados testes de toxicidade crônica de cada composto de forma isolada, para R. subcapitata, testes de toxicidade crônica intergeracional com exposição ao fármaco EE2 para C. silvestrii e D. magna, testes de toxicidade aguda e crônica desses compostos de forma isolada e em mistura para C. rigaudi e testes de toxicidade aguda e crônica da atrazina ao cladócero nativo endêmico neotropical, C. silvestrii, de acordo com os protocolos padronizados da ABNT e OECD. Como respostas foram avaliados parâmetros fotossintéticos e composição lipídica para a microalga, e parâmetros reprodutivos e sensibilidade das espécies (SSD). Os resultados mostraram sob exposição crônica que a atrazina causa diminuição nos parâmetros fotossintéticos e no teor de lipídios totais, mas quando exposta ao EE2, em baixas concentrações, o crescimento é estimulado (hormesis) e há aumento de carboidratos. No segundo nível trófico, diferentes cladóceros tiveram diferentes respostas ao hormônio EE2: redução da fecundidade de C. silvestrii na segunda geração, mas não na primeira; redução da fecundidade de D. magna na primeira geração, mas não na segunda; C. rigaudi, quando exposta aos dois compostos individualmente, teve mais de 80% de redução na fecundidade para ambas substâncias e 11,8% de redução do tamanho corporal quando em exposição ao EE2. Já em mistura, os compostos apresentaram interação dependente do nível da dose, sendo que os efeitos sobre C. rigaudi foram de sinergismo em concentrações mais baixas e antagonismo nas mais altas. A exposição crônica intergeracional de C. silvestrii ao herbicida resultou em menor fecundidade (de cerca de 27% a 38,5% menor) para ambas gerações. Ambos compostos representam risco ecológico podendo afetar negativamente as comunidades planctônicas. A importância de se incluírem espécies nativas nos estudos ecotoxicológicos de ambientes tropicais é reforçada, visto as diferenças de sensibilidade das espécies. |
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