Resumo: |
A violência afeta mulheres mundialmente e envolve causas sociais, políticas e econômicas. O objetivo do estudo foi compreender as representações sociais que mulheres usuárias da atenção básica têm sobre violência doméstica. Pesquisa exploratória-descritiva de abordagem qualitativa desenvolvida em um município mineiro com a participação de 12 mulheres notificadas, como casos suspeitos ou confirmados de violência doméstica, com 18 anos ou acima dessa idade e que foram atendidas em unidades de saúde, no período de 2016 a 2020. Utilizou-se o critério de progressão aritmética de razão 15 a partir da primeira mulher citada na lista das notificações e as mulheres foram contatadas via telefônica e convidadas a participar da pesquisa. As entrevistas individuais ocorreram nas dependências de sete unidades de saúde, em 2021, e foram interrompidas quando os dados se mostraram repetitivos. Para análise dos dados foi utilizada a técnica de análise de conteúdo. O projeto foi aprovado pela Secretaria Municipal de Saúde e pelo Comitê de Ética em Pesquisa. As participantes consideraram como violência as agressões físicas, verbais e sexuais e manifestaram seus conhecimentos acerca da violência ancorados nas representações sociais do senso comum, traduzidos por atitudes concretas de violência praticadas pelo agressor como tapa, enforcamento, estupro e xingamento. Quase metade das participantes vivenciaram violência durante a gestação e sobre a percepção da violência entre casais, suas falas são representadas pela opressão do homem e a submissão da mulher. Os depoimentos refletem sentimentos de raiva, indignação, revolta, tristeza, humilhação, impotência e medo ao falar sobre a violência vivenciada, que ocorre de forma rotineira, tendo como principal perpetrador o homem e atribuem a prática da violência ao uso do álcool e ciúmes. Sobre os motivos que as levaram a não denunciar o vivido, os sentimentos mais expressados foram o medo e a dependência financeira. Todas as participantes declararam não conhecer nenhum tipo de apoio à mulher em situação de violência no município e procuraram a polícia ou a família quando precisaram de ajuda, mas revelaram não ter tido suas necessidades atendidas. Demonstraram pouco conhecimento acerca das medidas preventivas e punitivas para a prática da violência contra a mulher. Durante a pandemia, algumas das participantes relataram intensificação da violência, sempre com agressores homens, sendo que a maioria não procurou nenhum tipo de ajuda. Consideramos que intervenções para prevenção, redução da incidência e prevalência da violência contra a mulher irão contribuir de forma significativa para esta e outras gerações. Faz-se necessário buscar equidade social para a população feminina e agir sob fatores determinantes e condicionantes que envolvem a violência contra a mulher. |
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