Desafios do HIV/AIDS em país de baixa renda: sobrevida e retenção de pacientes em TARV nos cuidados de HIV na \'Era\' de \"Testar e Iniciar\" o tratamento no Município de Maputo, Moçambique

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Mateus, Aniceto
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
HIV
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6140/tde-18082023-165452/
Resumo: Introdução: Considerando as evidências segundo as quais o início precoce do TARV, independentemente da contagem do CD4 ou do estágio clínico da OMS, aumenta a sobrevida e a retenção de pacientes em TARV; diminui a morbidade e mortalidade; e reduz a incidência do HIV, a OMS propôs a ETI para países de baixa renda fortemente afetados por HIV/AIDS, no entanto, estudos que avaliam o seu efeito sobre indicadores clínicos e programáticos ainda são escassos em Moçambique. Objetivos: (i) Estimar taxas de mortalidade e de perda no seguimento clínico e psicossocial nas coortes de pacientes submetidos à ETI (DTI) e não submetidos à estratégia (ATI), respectivamente, e compará-las; (ii) Estimar as medianas do tempo e as probabilidades de sobrevida e de retenção nos cuidados de HIV nas duas coortes (ATI e DTI) e compará-las; (iii) Analisar a influência da ETI na sobrevida e na retenção de pacientes em TARV nos cuidados de HIV, após ajuste para potenciais confundidores. Método: Estudo de coorte retrospectivo de pacientes em TARV, com idades entre 15 e 49 anos, inscritos nos serviços públicos de saúde do município de Maputo, Moçambique. As variáveis estudadas foram sociodemográficas (sexo, idade, escolaridade, região de residência); clínicas (data do diagnóstico de HIV; óbito; estádio clínico da OMS; contagem de CD4; carga viral; data de início do TARV; perda no seguimento; regime de tratamento; co-infecção HIV/TB; indice de massa corporal); programáticas (serviço de diagnóstico/testagem de HIV; participação nos grupos de apoio para a adesão comunitária; exposição à ETI) e os desfechos de interesse foram óbito e perda no seguimento clínico e psicossocial. Utilizou-se o estimador produto limite de Kaplan-Meier, o modelo de riscos proporcionais de Cox e as estimativas das razões de \"Hazard\" (HR), com respectivos intervalos de confiança a 95%. Estimou-se a FAP para a exposição à ETI, como medida de impacto da estratégia na população. Resultados: A taxa média de mortalidade na coorte ATI foi de 28,1/1000 pessoas-ano, enquanto na coorte DTI foi de 24,5/1000 pessoas-ano. A taxa média de perdas no seguimento clínico e psicossocial na coorte ATI foi de 17,3/1000 pessoas-ano e na coorte DTI de 15,0/1000 pessoas-ano. A MTS na coorte ATI foi de 43,1 meses e na coorte DTI de 50,6 meses. A MTR na coorte ATI foi de 39,8 meses e na coorte DTI de 49,0 meses. Mostraram-se associadas ao tempo de sobrevida, independentemente das demais covariáveis: pertencer à faixa etária de 25-39 (HR=1,52; IC 95% 1,37 - 1,69) e 40-49 (HR=2,16; IC 95% 1,94 - 2,41); ser residente de região suburbana (HR=1,45; IC 95% 1,36 - 1,54); ser do sexo masculino (HR=1,41; IC 95% 1,33 - 1,49); estar em TARV com a II linha (HR=1,19; IC 95% 1,13 - 1,26); estar co-infectado HIV/TB (HR=1,16; IC 95% 1,10 - 1,23); pertencer ao estágio clínico IV da OMS (HR=1,93; IC 95% 1,70 - 2,17), ter IMC <18,5 Kg/m2 (HR=1,18; IC 95% 1,07 - 1,29); não estar exposto à ETI (HR=1,16; IC 95% 1,10 - 1,22). Mostraram-se associadas ao tempo de retenção nos cuidados, independentemente das outras covariáveis: estar em regime de TARV da II linha (HR = 1,48; IC 95% 1,40 - 1,56); pertencer ao estágio III (HR = 1,28; IC 95% 1,19 - 1,36) e IV (HR = 3,51; IC 95% 3,17 - 3,88) da OMS; não estar exposto à ETI (HR = 1,75; IC 95% 1,65 - 1,85); estar co-infectado HIV/TB (HR = 1,18; IC 95% 11,11 - 1,24); ser do sexo masculino (HR = 1,17; IC 95% 1,11 - 1,24); pertencer aos GAAC (HR = 1,21; IC 95% 1,12 - 1,30). A fração atribuível na população para o grupo exposto à ETI (DTI) foi de 6,4% em relação à sobrevida e 20,0% para a retenção nos cuidados de HIV. Conclusões: No contexto de um país de baixa renda fortemente afetado por HIV/AIDS e situado na região Austral de África, a ETI mostrou impacto relevante no aumento da sobrevida e a retenção de pacientes em TARV nos cuidados de HIV, bem como na redução da mortalidade e das perdas no seguimento clínico e psicossocial. O estudo também confirmou o papel de fatores associados aos dois desfechos, também identificados em outras regiões da África Subsaariana e do mundo. Estes resultados fortalecem a importância da ETI para países de baixa e média renda fortemente afetados pelo HIV, para acelerar a resposta local e global do HIV/AIDS por via de intervenções nacionais.