Transição nutricional em comunidades ribeirinhas da Amazônia brasileira: escolhas entre alimentos tradicionais e industrializados na região de Caxiuanã, Pará, Brasil

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Reis, Mariana Inglez dos
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/41/41131/tde-13092024-183103/
Resumo: A substituição de dietas tradicionais por dietas baseadas em alimentos processados, mais rica em energia e pobre em nutrientes, rica em açúcar, gorduras de origem animal, somada ao aumento do sedentarismo, tem resultado no maior risco às doenças crônicas não transmissíveis. Este processo, conhecido como Transição Nutricional tem impactado drasticamente a saúde humana em todo o mundo, particularmente as populações mais vulneráveis do ponto de vista socioeconômico. Pesquisas anteriores (2002-2009) encontraram evidências da Transição Nutricional em comunidades ribeirinhas da região da Floresta Nacional de Caxiuanã, Pará, e foram motivadoras das perguntas desse trabalho. O que teria acontecido, do ponto de vista nutricional, 20 anos depois dos primeiros estudos com as famílias de Caxiuanã? Entre os anos de 2019 e 2023, retornei às mesmas comunidades para documentar o fenômeno da Transição Nutricional a longo prazo, registrando mudanças na dieta e no status nutricional dessas populações, buscando responder quais seriam impulsionadores desse processo hoje. A documentação e análise do processo de Transição Nutricional são fundamentais não apenas para a macro escala dos rumos da saúde humana globalmente, como para a compreensão das particularidades na microescala de contextos específicos como o de populações ribeirinhas. Disso depende o desenvolvimento de políticas e programas mais eficientes para promoção de saúde e qualidade de vida nessas comunidades rurais amazônicas. Adotando uma abordagem biocultural e decolonial, foram coletados e analisados dados via observações etnográficas e diário de bordo, entrevistas socioeconômicas e sobre consumo de alimentos, além de medidas antropométricas. As diferentes metodologias e abordagens empregadas possibilitaram o registro de alguns padrões esperados para uma população em transição nutricional, mas com especificidades associadas às dinâmicas locais tanto no que diz respeito à rotina e estilo de vida no bioma amazônico, quanto resultantes das relações de poder internas e externas (como Estado-Igreja). Análises estatísticas indicam que entre 2002-2021, o status nutricional das mulheres foi mais afetado, com a maior parcela dessa população encontrando-se com risco aumentado às doenças crônicas, embora para a toda a população tenha sido observado ganho de peso. As entrevistas e observação durante a vivência nas comunidades também permitiu documentar o aumento no consumo de alimentos ultraprocessados que, mesmo passados 20 anos desde o início do registro da Transição Nutricional nessas comunidades, não substituíram completamente a dieta tradicional ribeirinha. Finalmente, pude registrar o contexto de insegurança alimentar continuado, e sua associação com evidências de negligência e ausência do Estado. Foram identificadas intervenções em alimentação e saúde inadequadas quanto às orientações aceitas pelos órgãos de saúde e nutrição, e efeitos das mudanças climáticas no acesso aos alimentos. Nesse sentido, esse estudo corrobora a tese de que populações racializadas, no Brasil e no mundo, sofrem o nutricídio somado a outras formas que levam ao seu extermínio.