Desenvolvimento de capacidades praxiológicas e verbalizações sobre obstáculos na construção de saberes do métier de professor de francês como língua estrangeira

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Rocha, Suélen Maria
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8163/tde-10082023-125124/
Resumo: Esta tese analisou índices possíveis de desenvolvimento das capacidades praxiológicas de professores iniciantes durante entrevistas em autoconfrontação (AC), em que foram discutidas a implementação de sequências didáticas (SD), elaboradas para o ensino do francês como língua estrangeira (FLE) em um Curso de Formação, cuja abordagem privilegiada foi o ensino e a aprendizagem por meio de gêneros textuais (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004). Partindo da hipótese de que a construção dos saberes do métier dos futuros profissionais não depende só de apropriação de saberes teóricos, mas, também, da busca de respostas às perguntas que se colocam na prática, o Curso combinou três vertentes teóricas de base vygotskiana (VYGOTSKI, 1934/1997): o Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999) e seus desdobramentos para a Engenharia Didática (DOLZ, 2016), a Clínica da Atividade (CLOT, 2001) e a Ergonomia da Atividade (FAÏTA, 2004; SAUJAT, 2004). O Curso teve como base a proposta de Bulea e Bronckart (2010), que apontam a necessidade de articular objetivos epistêmicos, em nosso caso, o trabalho com a transmissão de saberes para o ensino e a aprendizagem dos gêneros textuais, e objetivos praxiológicos, a partir da análise das práticas, com o uso de entrevistas em autoconfrontação (AC) (FAÏTA, VIEIRA, 2003). Nessas entrevistas, os quatro professores participantes verbalizaram sobre obstáculos com o ensino da produção escrita de dois gêneros: o fait divers e a crítica de cinema. Para analisar as AC, baseamo-nos no modelo teórico-metodológico do interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2006a), com enfoque nos mecanismos de textualização e mecanismos enunciativos e nas contribuições para a categoria das vozes: a voz da fala interior exteriorizada, a fala interior reconstituída (LOUSADA, DANTAS-LONGHI, 2014) e as vozes sociais da didática, do coletivo de trabalho, do métier (LOUSADA, 2006). Para cada excerto das entrevistas: i) contextualizamos cada sequência de aula escolhida pelos professores por meio de sinopses; ii) identificamos os obstáculos epistemológicos (BACHELARD, 1934; BROUSSEAU, 1998; VUILLET, 2017) e didáticos (BROUSSEAU, 1998; TOBOLA-COUCHEPIN, 2017) representados nas entrevistas; iii) evidenciamos como os obstáculos dos alunos e dos próprios professores são representados e iv) identificamos as transformações das representações dos professores sobre suas capacidades praxiológicas, com foco na discussão sobre soluções para contornar os obstáculos. Os obstáculos permitiram colocar alguns gestos didáticos (SCHNEUWLY; DOLZ, 2009) em maior destaque: gestos de regulação, gestos de implementação de dispositivos didáticos (SCHNEUWLY, 2009) e gestos de manutenção de uma certa atmosfera (MOREL, BUCHETON et al., 2015) e possibilitaram a tomada de consciência (VIGOTSKI, 2003) das capacidades praxiológicas de que os professores dispunham no momento da aula para encontrar soluções para os obstáculos. A tomada de consciência sobre os recursos intermediários (SAUJAT, 2004a), promoveu, sobretudo nas AC cruzadas, o aparecimento de soluções para tratar os obstáculos dos alunos. Observamos que, quando mais de um professor compreende ou apresenta o mesmo obstáculo, ele percebe que os obstáculos não estão na pessoa, mas pertencem a um conjunto de professores. Vemos, assim, que o método da autoconfrontação possibilitou uma compreensão mais ampliada do métier de professor, de forma coletiva e não individualizada. Ao \"despersonalizar\" os obstáculos, a autoconfrontação contribui para o processo de construção dos saberes do métier, permitindo verbalizar sobre sua dimensão epistêmica (os saberes para ensinar, os saberes a ensinar (HOFSTETTER, SCHNEUWLY, 2009) e sua dimensão praxiológica.