Estudo sobre memória de pessoa

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Pestana, Janine Gonçalves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-02042024-175931/
Resumo: Esta pesquisa recolheu lembranças sobre pessoas, pretendendo contribuir para os estudos de memória de pessoa. Quatro foram as pessoas recordadas (Alfredinho, Ute, Adilson e Eva) e oito os seus recordadores. Cada uma das quatro pessoas de referência foi encontrada segundo este critério: alguém que se havia feito perceber de modo significativo, no sentido político arendtiano, no grupo familiar, entre amigos íntimos e também na esfera pública. Para cada pessoa lembrada, foram entrevistados dois depoentes: um homem e uma mulher, sendo deles solicitada a evocação de histórias testemunhadas sobre a pessoa lembrada. Buscamos então identificar nestas narrativas traços psicossociais que permitissem discutir este problema: como opera a memória de pessoa, o que forma no recordador e o que toma memoráveis as pessoas que lembramos? Verificamos que as lembranças sentiam a pessoa lembrada como próxima e transcendente, organizando-se rigorosamente segundo um principio de íntencionalidade, tal como afirmado pela fenomenologia. Enfatizamos os seguintes resultados: Alguém se tomou memorável quando, por seus feitos e palavras, comoveu um público e certamente o recordador: inaugurou práticas ricas de sentido moral e político, isto é, virtuosas; os exemplos interpelaram e mobilizaram o lembrador, tomando-se matéria de contemplação (contato com a distinção e singularidade da pessoa lembrada) e, mais ainda, fonte de ação, trazendo o lembrador para a manifestação de sua própria distinção e singularidade. Um fenômeno que parece operar nesse processo é o principio de causalidade pessoal, tal como Heider o caracterizou: as pessoas são sentidas como pontos de partida, iniciadoras, fundadoras. As rememorações de alguém marcante reorientam o lembrador, mas sem nunca fazê-lo coincidir com a pessoa lembrada, trazendo-o para uma espécie de imitação paradoxal, solta e ligada à pessoa rememorada. A pessoa marcante é alguém que contribuiu para o resgate moral ou espiritual do recordador através da troca de dons e de mútua influência, o que assinala a generosidade da pessoa rememorada, capaz de doação e recepção. A influência da pessoa lembrada na vida do lembrador, quando revelada por narrativas ou histórias, parece capaz de estender-se a outros, até mesmo àqueles que não foram diretamente tocados por ela: a memória de pessoa multiplica sua influência.