O uso dogmático de pressupostos no ensino de ciências: uma reflexão a partir da perspectiva da filosofia da linguagem wittgensteiniana em um curso de formação continuada de professores

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Lara, Moisés da Silva
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-19092019-153301/
Resumo: Nesta tese, nós fazemos uma reflexão sobre o uso de determinados pressupostos sobre conhecimento, ensino e a aprendizagem que influenciam a área de Ensino de Ciências e, inspirados na filosofia da linguagem wittgensteiniana e algumas contribuições da filosofia bakhtiniana, procuramos demonstrar que muitos desses pressupostos são tacitamente aceitos, constituindo-se em certezas que são dogmaticamente seguidas pelos docentes e acabam influenciando as suas práticas pedagógicas. Assim, nós defendemos uma maior compreensão do processo de significação, tomando por base a diferenciação wittgensteiniana das proposições empíricas e gramaticais, e o reconhecimento das diferentes funções exercidas pela linguagem, com o intuito de dissolver confusões e evitar o uso dogmático de pressupostos, parte deles propagados pela epistemologia construtivista, que restringem as compreensões sobre o conhecimento, o ensino e a aprendizagem, dificultando que novas possibilidades sejam exploradas. Dentre os pressupostos explorados, nós destacamos os seguintes: o conhecimento é construído pelo próprio sujeito; a aprendizagem implica numa mudança conceitual; a compreensão e a aprendizagem dependem de uma representação mental; um conceito pode ser ensinado pela sua definição; a linguagem científica é inacessível aos estudantes; o professor é apenas um mediador do conhecimento. A partir da análise da argumentação de um professor, cujos dados foram produzidos num Curso de Formação Continuada sobre a Linguagem no Ensino de Ciências, nós constatamos que houve um avanço significativo no processo de explicitação das ideias do professor durante o curso, além de um aumento na preocupação com questões relativas à linguagem, o que confirma nossas expectativas sobre as atividades desenvolvidas. No entanto, quando analisamos a argumentação do professor, nós constatamos que as discussões realizadas não tiveram o mesmo impacto sobre as demais compreensões que o professor tem sobre o Ensino de Ciências, parecendo resumir-se a aspectos semânticos da linguagem científica envolvida na abordagem dos conteúdos e na interação com os estudantes, sem indicativos de que o docente reconheça o papel da linguagem em suas próprias compreensões sobre o Ensino de Ciências. Essas constatações sugerem a necessidade de uma maior apropriação dessa filosofia pela área de Ensino de Ciências, e que os professores devem ser inseridos nessas discussões ainda durante a formação inicial para que possam ampliar gradativamente a sua compreensão sobre a linguagem. Assim, reafirmamos o potencial da filosofia wittgensteiniana para as reflexões sobre o Ensino de Ciências e defendemos a necessidade de uma ampliação da literatura disponível, com produções que discutam o uso dogmático de pressupostos e outros temas específicos do Ensino de Ciências, contemplando as diversas demandas da área, trazendo maior variedade de exemplos e, ao mesmo tempo, que seja suficientemente didática para ser empregada na formação inicial de professores.