A dimensão intangível do Patrimônio Urbano

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Guazzelli, Bárbara Gonçalves
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/102/102132/tde-31082023-105139/
Resumo: O que perfaz um bem cultural na sua totalidade? Quais são os elementos presentes na culinária amazônica que compõem o Patrimônio Cultural praticado na cidade brasileira de Belém do Pará e quais são aqueles que constituem o Flamenco na cidade andaluza de Sevilha? Como se classifica o chamado duende, sentimento que move o artista flamenco para uma manifestação inexplicável em palavras? Foram questionamentos relativos às diferentes dimensões que compõem a totalidade de um bem cultural que guiaram essa investigação, que considera o fato de que, atualmente, entende-se que as práticas sociais são as geradoras do Patrimônio Cultural. Diante do reconhecimento das diferentes dimensões que fazem parte da totalidade de um bem cultural, essa investigação considera fundamentalmente que os vetores materiais de um bem cultural são indissociáveis da sua dimensão intangível. No contexto atual, a valorização dos bens culturais intangíveis torna-se complexa, pois há diversidade na natureza desses bens e nos critérios para sua inclusão em processos de patrimonialização. A autenticidade, beleza e antiguidade, por exemplo, são valores que se relacionam com um momento anterior desse campo do conhecimento, o que pode prejudicar as premissas atuais do Patrimônio Cultural, pois dependem da atribuição do saber técnico e de olhares particulares. O momento atual é aqui caracterizado a partir de conceitos como a (Multi)territorialidade e processos como a Mundialização e a transnacionalização da Memória, que devem ser considerados nesse debate especialmente com relação às estratégias de empresariamento urbano ligadas ao turismo em territórios culturais. O estudo considera que o processo de empresariamento urbano resulta em transformações devido ao consumo e mercantilização da cultura, o que pode levar à homogeneização da cidade e comprometer a preservação das características locais. A tese considera duas estratégias específicas de empresariamento urbano, sendo uma delas a Urbanalização e a outra a Containerização aplicada na análise do espaço urbano tematizado. Ambas provocam a banalização e estandardização da experiência urbana, exclusão das populações locais e atividades tradicionais, e transformação dos espaços urbanos em objetos independentes, voltados para a economia de serviços, consumo e entretenimento. Os estudos de caso analisados durante a investigação, que foi feita a partir de uma abordagem qualitativa de caráter exploratório, foram o Complexo do Ver-o-Peso na cidade brasileira do Belém do Pará e seu respectivo bem cultural intangível patrimonializado, a culinária amazônica, e o bairro de Triana na cidade espanhola de Sevilha, considerada berço do Flamenco, sendo este também um bem cultural intangível patrimonializado. A investigação mostrou que a dimensão intangível do patrimônio urbano é inseparável e complementar à sua parte edificada. No entanto, bens culturais intangíveis tem sido utilizados em estratégias de empresariamento de territórios culturais, especialmente em processos de turistificação, com o uso principalmente do valor de autenticidade como atrativo. O resultado é um roteiro de atividades específicas, sem relação com o entorno, direcionadas a um público característico, que tem como uma das consequências a vulnerabilização dos bens intangíveis que se intenta preservar. Por fim, concluiu-se que a categorização promovida pelo campo do Patrimônio Cultural, ao dividir os bens de acordo com sua materialidade, fragiliza o bem cultural ao não considerar sua totalidade, dotada de ambas as dimensões, material e intangível.