Além das horas: estudo misto sobre as demoras obstétricas relacionadas à morbidade materna grave

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2024
Autor(a) principal: Mendes, Lise Maria Carvalho
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/22/22133/tde-22112024-164550/
Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar as demoras obstétricas e compreender a primeira demora obstétrica a partir da perspectiva das mulheres sobreviventes à Morbidade Materna Grave. Estudo de método misto, sequencial quantitativo-QUALITATIVO, realizado na Maternidade Escola Assis Chateabriand, em Fortaleza-CE. Participaram 291 mulheres sobreviventes à morbidade materna grave e internadas na enfermaria de alto risco da referida maternidade, durante o período de abril a setembro de 2023. A coleta de dados foi realizada em duas fases: a primeira correspondeu ao recrutamento das participantes para responder um questionário de caracterização sociodemográfica, comportamental, clínico-obstétrica e referente às demoras, em que foram identificadas as mulheres que apresentaram a primeira demora. Na segunda fase foi realizada uma entrevista semiestruturada a fim de investigar as representações sobre a primeira demora. Os dados quantitativos foram analisados através de análises descritivas para o perfil sociodemográfico, comportamental, obstétrico e demoras, por meio de frequências relativas com intervalo de confiança de 95% para as variáveis categóricas e médias com Desvio Padrão para as numéricas. Para comparar as diferenças segundo os períodos do tempo foram realizados teste-t para variáveis categóricas, ANOVA quando havia mais de duas categorias e teste de correlação de Pearson para as numéricas. As análises foram realizadas no programa estatístico Stata, versão 15.1. Os dados qualitativos foram analisados através da hermenêutico dialética e refletidos à luz do referencial teórico das três demoras e representações sociais. A maioria das mulheres apresentaram a primeira demora, seguido pela segunda demora e uma menor parcela apresentou a terceira demora. A primeira demora esteve significativamente associada ser católica, ter mais de 3 moradores no domicílio, ser solteira, idade avançada, gestação não planejada, histórico de partos vaginais, ter critério clínico de Near Miss. A segunda demora esteve associada a ser casada, menores de 18 anos e idade avançada, maior Índice de Massa Corpórea, maior número de consultas pré-natal, placenta prévia e eclâmpsia. A terceira demora esteve associada a histórico de filho nascido morto e ter ensino superior completo. As participantes relataram que os determinantes individuais e sociais imbricados na primeira demora foram ignorar sintomas e sinais de alerta, automedicação, descoberta tardia da gravidez, início do pré-natal tardio, não reconhecer sintomas de gravidade, ter estratégias para ignorar os sintomas, resignação pela fé, acreditar na intervenção divina, influência de terceiros, comparação com gestações anteriores, influência da rede de apoio, priorização das atividades domésticas, influência do trabalho e ocupação, territórios ocupados por facções e realizar pré-natal em unidade prisional. Demora no referenciamento, discrepância entre oferta de serviços da atenção primária e centros especializados, barreiras financeiras para realizar exames, atendimento demorado, percepção negativa sobre a equipe de enfermagem, comunicação ineficaz entre os profissionais de saúde e as usuárias dos serviços, busca pela casa de familiares e de informações na internet antecede a busca pelos serviços de saúde foram representações comunicadas nas autópsias verbais. Muitas mulheres experimentam uma ambivalência entre seu próprio bem-estar e o da criança, enfrentam dificuldades ao lidar com o luto, recorrem ao isolamento emocional e requerem suporte durante hospitalizações prolongadas.