Avaliação ecocardiográfica de recém-nascidos com encefalopatia hipóxico-isquêmica na vigência de hipotermia terapêutica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Nunes, Vanessa Augusto Canuto
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/98/98131/tde-17092018-091855/
Resumo: INTRODUÇÃO: A encefalopatia hipóxico-isquêmica (EHI) corresponde a uma das maiores causas de morbidade e mortalidade neonatal. Ocorre em consequência à asfixia perinatal aguda, representada por baixo escore de Apgar e evidências de distúrbios neurológicos ao nascimento. A hipotermia terapêutica (HT) tem mostrado benefícios relevantes no prognóstico neurológico a longo prazo, por reduzir o metabolismo cerebral, retardando o início da despolarização hipóxica celular. Os efeitos da HT no sistema cardiovascular foram pouco estudados, suscitando questionamentos quanto à adequada interpretação dos achados ecocardiográficos nesta condição terapêutica. OBJETIVO: avaliar o comportamento hemodinâmico e da função ventricular de recém-nascidos com EHI na vigência de HT, utilizando-se técnicas ecocardiográficas convencionais e avançadas. MÉTODO: trata-se de um estudo observacional desenvolvido em três instituições, em que 22 recém-nascidos com EHI foram avaliados por meio da ecocardiografia nas duas fases da HT (durante a hipotermia e após o reaquecimento). O grupo controle foi composto por 22 recém-nascidos saudáveis. Os bebês foram submetidos a HT seguindo critérios do protocolo de hipotermia de cada um dos serviços. RESULTADOS: Função ventricular esquerda: as frações de ejeção (FE) e de encurtamento foram maiores após o reaquecimento (74 ± 5% e 41 ± 5% respectivamente) em relação ao grupo controle (70 ± 5%, p = 0,003 e 37 ± 4%, p = 0,002). O índice de performance miocárdica (IPM) do ventrículo esquerdo (VE) avaliado pelo Doppler pulsado se manteve constante nas duas fases da HT (0,51 ± 0,13, hipotermia = reaquecimento) e foi menor na comparação destas com o grupo controle (0,63 ± 0,18, p = 0,02). Os valores do strain circunferencial e radial, do twist, da torção e do strain longitudinal global do VE (STLGLVE) foram semelhantes entre o grupo controle e o grupo estudo, tanto durante a hipotermia quanto após o reaquecimento. Função ventricular direita: Observou-se incremento da velocidade da onda s´ do ventrículo direito (VD) após o reaquecimento (de 0,07 ± 0,02 m/s durante a hipotermia para 0,09 ± 0,01 m/s, p < 0,001), sendo esta também mais elevada quando comparada aos valores do grupo controle (0,07 ± 0,01 m/s, p < 0,001). Houve queda dos valores da variação fracional das áreas (FAC) do VD após o reaquecimento (38 ± 11% durante a hipotermia, 36 ± 11% após o reaquecimento e 43 ± 10% grupo controle), com diferenças significativas entre esses dois últimos (p = 0,03). Quanto ao IPM do VD, o grupo controle apresentou médias menores (0,29 ± 0,13) que o grupo caso durante a hipotermia (0,46 ± 0,33, p = 0,03). O strain longitudinal global do VD (STLGLVD) foi significativamente pior tanto durante a hipotermia (-18 ± -5%, p = 0,02) quanto após o reaquecimento (-18 ± 4%, p = 0,01) quando comparados ao grupo controle (-21 ± 2%). Parâmetros hemodinâmicos: A pressão sistólica na artéria pulmonar foi mais elevada no grupo estudo durante as duas fases do tratamento (hipotermia 45 ± 24 mmHg, p = 0,02 e reaquecimento 53 ± 34 mmHg, p = 0,01 versus grupo controle 29 ± 11 mmHg). A FC foi significativamente mais baixa durante a hipotermia comparada ao período após o reaquecimento (FC 111 ± 19 bpm versus 144 ± 20 bpm, p < 0,001) e ao grupo controle (FC 130 ± 16 bpm, p < 0,001). Durante o reaquecimento, observou-se elevação do débito cardíaco (DC) esquerdo e direito em relação ao período de hipotermia (DC esquerdo 214 ± 39 ml/kg/min versus 155 ± 47 ml/kg/min, p < 0,001; DC direito 369 ± 141 ml/kg/min versus 269 ± 113 ml/Kg/min, p = 0,005) sendo significativamente mais elevado que no grupo controle (DC Esquerdo 174 ± 47 ml/kg/min, p = 0,004 e DC direito 288 ± 74 ml/Kg/min, p = 0,02). CONCLUSÕES: A função ventricular esquerda permanece estável nas duas fases da HT, demonstrando o baixo comprometimento cardíaco esquerdo do resfriamento induzido. Os valores da FE, da fração de encurtamento e da onda s´ do VD, maiores após o reaquecimento, podem ser consequentes a um estado hiperdinâmico do coração. Disfunção ventricular direita foi observada nos momentos em que a pressão pulmonar estava elevada. O STLGLVD foi a única ferramenta capaz de identificar o comprometimento da função sistólica do VD durante a HT.