As ações bucais como práticas na emergência de entendimentos situados em interação sinalizada

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Silva, João Paulo da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-22052023-160727/
Resumo: O objetivo desta tese é descrever o processo semiótico que se desenvolve em uma conversa em libras entre dois surdos adultos fluentes nessa língua, analisando de que modo as ações bucais empregadas por eles podem constituir práticas corporeadas de criar entendimentos situados na conversa (STREECK, 2009; ENFIELD, 2013). Para tanto, tomo como base os fundamentos do que está sendo chamado de Semiótica das Interações, isto é, um campo de pesquisa interdisciplinar que perpassa o trabalho de pesquisadores que, em uma postura que se distancia dos ditames da Modernidade, ocupam-se em descrever aquilo que há de local, temporal, contingencial na significação emergente nas interações entre seres vivos. Essa semiótica envolve uma parceria entre as teorias de base enativa, inspiradas pelo trabalho de Varela e seus colegas (VARELA; ROSCH; THOMPSON, 1991), e aquelas obras filosóficas e científicas que agrupam reflexões e descrições desenvolvidas sob o rótulo de perspectiva de habitação (POLANYI, 2009; HEIDEGGER, 1971; INGOLD, 2000; STREECK, 2015; GOODWIN, 2018). Dessa perspectiva, a semiose é vista como um sistema complexo que se auto-organiza dinamicamente em face a perturbações, em um processo em que não há lugar para descrições estáticas. Com base nas noções (neo)peirceanas de signos, o entendimento é o de que, em eventos que reconhecemos como enunciados multidimensionais, instigadores do processo semiótico (R) se co-constituem dinâmica e temporalmente com objetos de interpretação (O) enquanto promovem sua co-emergência com eventos interpretantes (I), formando assim as unidades temporais de significação a partir das quais as conversas se desenvolvem. As descrições apresentadas nesta tese se voltam para a participação das ações bucais nesse processo, tal como elas são empregadas pelos surdos na conversa em questão. Os resultados apontam para a necessidade de uma maior abertura nas ciências da linguagem para aquilo que sempre foi deixado de lado nesses estudos, a saber, o caráter situado, local, temporal, corporeado e contingencial das ações que constituem as diferentes facetas do processo semiótico no mundo experiencial dos seres vivos