Resumo: |
Esta pesquisa parte do entendimento de dinâmicas de segregação e auto-segregação, que tomaram forma em grandes cidades brasileiras a partir da década de 70, conduzindo a uma prática de reprodução de enclaves fortificados, como colocado por Caldeira (2000). Em um movimento retroalimentado, a insegurança de viver na grande cidade recebe respostas arquitetônicas e urbanísticas: muros altos, cercas, sistemas de segurança, patrulhas privadas, guaritas, um estado de vigilância permanente, como disse Bauman (2014). A sociabilidade decorrente dessa dinâmica passa a ser pautada pela sensação de medo, intolerância e ameaça constante. Como este modo de organização da cidade altera as sociabilidades e a percepção do espaço urbano? Esta dinâmica gera um movimento de supervalorização da exclusividade, de negação de alteridades; contribui para a intolerância e para a construção de um mercado do medo, que vende a sensação de segurança (mesmo que esta não seja verdadeira) sob a forma de loteamentos fechados, e sistemas de segurança privados. Enquanto estratégia de campo, o trabalho se vale de levantamentos espaciais de loteamentos fechados, de modo a investigar como a arquitetura e morfologia desses espaços se relacionam com a estratégias de segurança; e levantamentos sociais qualitativos (baseados em entrevistas e questionários) com moradores desses loteamentos, localizados em cidades da Região Metropolitana de Campinas (Itatiba, Campinas, Valinhos e Vinhedo) sobre suas perspectivas acerca do medo urbano e dos seus modos de utilização dos espaços coletivos intramuros e dos espaços públicos extramuros. Esta pesquisa se preocupa principalmente em discutir como todo o aparato construído sobre o medo, e que resulta em vivências e espaços enraizados nesse afeto, se manifesta nas socializações cotidianas. |
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