Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2020 |
Autor(a) principal: |
Ferreira, Ana Carolina de Souza |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-26052020-213733/
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Resumo: |
A obra do dramaturgo português Gil Vicente (1465-1536) foi transmitida por meio de folhas volantes e de duas edições, uma de 1562 e outra de 1586, do livro intitulado Compilação de todas as obras de Gil Vicente. Ambas edições foram vistoriadas por qualificadores da Inquisição portuguesa, porém apenas a segunda foi notadamente emendada. Por a entendermos como um documento histórico que carrega as marcas do processo censório da Inquisição portuguesa, o objetivo principal desta pesquisa de doutorado foi fazer um estudo crítico-discursivo-filológico de caso sobre esse procedimento editorial. Assim, tendo como bases teórico-metodológicas a Crítica Textual (BLÉCUA, 2001; CAMBRAIA, 2005; SPAGGIARI E PERUGI, 2004) e a Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 1941, 2008, 2009; VOLÓCHINOV, 2017; FOUCAULT, 2014 [1970]; e GONÇALVES-SEGUNDO, 2011, 2018), realizamos o seguinte: 1. Investigação a respeito de Gil Vicente e sua obra, da produção tipográfica e da Inquisição em Portugal no século XVI; 2. Seleção, com base no trabalho de Freire (1944), e colação das peças em língua portuguesa com mais de quarenta alterações na edição de 1586 em relação ao testemunho de 1562; 3. Dupla classificação das variantes substantivas; 4. Análise filológica e crítico-discursiva das variantes, considerando as possíveis motivações censórias, movimentações editoriais realizadas e, dentre as ordens do discurso, como representações de experiências de mundo, ou seja, como determinados discursos (metafunção ideacional) emergem a partir delas. Utilizamos para os cotejos as edições fac-similadas das duas referidas edições da Compilação disponíveis no site da Biblioteca Nacional de Portugal, e também, como apoio, a edição crítica e fac-similada dirigida por Camões (2002) e do centro de estudos de teatro (CET,2010) da universidade de Lisboa. Assim, encontramos 1145 variantes totais, entre as quais, a motivação blasfema totalizou 506 variantes (44,19%); a escandalosa, 433 variantes (37,81%); a supersticiosa, 111 variantes (9,69%); e a erudita, 95 variantes (8,29%). A maioria (1115) ocorreu por supressão (97,37%), seguida de substituição (30 variantes - 2,62%). Verificamos que as duas primeiras categorias censórias constituem-se como tabu e que as emendas sobre elas buscam preservar dois pilares de poder e da ideologia conservadora da Igreja: o seus dogmas e o que os embasam; e o seu funcionalismo interno. Por outro lado, as superstições não foram tão visadas quanto as anteriores tendo em vista que dizem pejorativamente de quem nelas acredita ou as pratica, ocorrendo emendas apenas por seus locais críticos coexistirem com outros mais polêmicos. |