Feminismo islâmico: mediações discursivas e limites práticos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: Lima, Cila
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-07082017-121004/
Resumo: A pesquisa proposta aqui tem como objeto de estudo o feminismo islâmico, movimento político-religioso de luta contra a opressão e a dominação sobre a população de mulheres, presente em países muçulmanos e em diásporas muçulmanas. Concebido aqui lato sensu como uma atuação feminista associada à reinterpretação das fontes religiosas do Islã, baseado nos conceitos islâmicos de ijtihad (interpretação racional das fontes religiosas) e de tafsir (comentários sobre o Alcorão), para repensar a posição da mulher na sociedade muçulmana. A hipótese que conduz a presente investigação é a de que o feminismo islâmico pode ser pensado a partir de três eixos constitutivos, interligados entre si: 1) a separação em duas vertentes, de um lado, um ativismo religioso, auto-definido como jihad de gênero, cujas reivindicações parecem sobrepor o Islã aos direitos das mulheres, e, de outro, um ativismo político, definido como defensor dos direitos humanos internacionais, cujas reivindicações são no sentido de aplicar ao Islã os direitos das mulheres; 2) a ideia de continuidade, no sentido de eliminar qualquer visão maniqueísta sobre as duas tendências, estabelecendo aqui um contínuo entre elas em que suas narrativas e atuações circulam de um extremo ao outro, de um lado dos extremos, aproximam-se de uma narrativa islamista e de, outro lado dos extremos, aproximamse de parâmetros discursivos do feminismo secular; e, 3) as forças em disputa, atualmente há três principais forças em disputa no âmbito dos movimentos sociais de mulheres em países muçulmanos e diásporas, considerando a realidade fora dos conflitos armados: os movimentos feministas seculares, o movimento islamista de mulheres (esses dois tipos de movimentos com origens nos anos 20, no Egito) e o feminismo islâmico (de origem, nos anos 80, desterritorializada e transnacional). Este estudo parte de dois pressupostos: primeiro, o de que os movimentos feministas em países muçulmanos não estão isolados do contexto internacional, os seus desenvolvimentos acompanham as tensões dos movimentos feministas internacionais, sendo expressões da internacionalização dos movimentos feministas seculares e, depois, de hibridações culturais e movimentos identitários pós-coloniais; e, segundo, o de que o feminismo islâmico, com as suas características específicas político-religiosas, tencionado entre o reformismo e o conservadorismo, é em sua essência um movimento relativista religioso, ao se dirigir exclusivamente às mulheres muçulmanas. Assim, o objetivo principal desta pesquisa é o de compreender quais as contribuições desse feminismo islâmico para a transformação da vida da mulher muçulmana, considerando duas questões centrais: a) como se pode compreender a relação do feminismo islâmico com os movimentos islamistas? e b) em que medida o caráter religioso do feminismo islâmico pode ser o limitador (ou extensor) de seu caráter feminista? Para tal, será feita uma abordagem dos seguintes recortes temáticos, que inicialmente parecem abarcar grande parte dos aspectos mais evidentes do objeto de estudo, na perspectiva proposta aqui: 1) o feminismo secular de origem ocidental e seus desdobramentos no mundo muçulmano, entre a secularização e a reislamização; 2) as afinidades passadas e presentes do feminismo islâmico com a ideologia, o movimento e o modelo islamista; e 3) o grau de persuasão em que o feminismo islâmico pode estar intervindo na consciência e na prática social, considerando suas contradições.