O quilombo e a escola de Barro Preto, em Jequié, Bahia: vicissitudes e sentidos de identidade

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Fernandes, Viviane Barboza
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-14052018-103324/
Resumo: Esta tese tem como base pesquisa realizada em uma comunidade quilombola urbana, denominada Barro Preto, situada em Jequié, cidade do sudoeste da Bahia, em 2015. O lócus basilar da investigação constituiu-se na escola pública de ensino fundamental estabelecida na comunidade, o Colégio Estadual Doutor Milton Santos. O estudo apoiou-se principalmente em entrevistas realizadas com sujeitos pertencentes à comunidade escolar e ao seu entorno professores, gestores, alunos e moradores. No período compreendido pela pesquisa foi possível acompanhar, de forma privilegiada, o processo pelo qual a comunidade e a escola se definiram, respectivamente, como quilombo e como escola quilombola. O objetivo principal deste trabalho consistiu assim em investigar e interpretar diferentes sentidos de identidade produzidos pelos sujeitos envolvidos em tal processo. A abordagem metodológica situou-se em uma perspectiva qualitativa, mediante realização de entrevistas, produção de testemunhos e memórias, organização de grupo focal e análise de conteúdo dos discursos recolhidos. Considerando a função proeminente da escola no processo de construção de identidade, buscou-se compreender e analisar as dinâmicas, conflitos e as vicissitudes vividas neste percurso. Como resultado, constatamos que a identidade quilombola, neste caso particular, pode ser compreendida através dos sentidos produzidos pelos sujeitos em um contexto que os impeliu a refletir e a pensar sobre o significado de ser negro e de ser quilombola. Esses sentidos, que se estendem para além da dimensão étnico-racial, para efeito de análise foram elencados em seis categorias principais território; memória; ancestralidade; corpo; ato político e religião , por meio das quais organizamos a apresentação dos temas, a discussão teórica e a análise dos dados. Evidenciou-se, nas falas dos sujeitos, que existem, entre uma parcela significativa dos moradores da comunidade (e também dentro da própria escola), tensões relacionadas à autoidentificação, dados os estereótipos e preconceitos em torno do ser negro e ser quilombola. Diante dessa realidade, observou-se o papel preponderante desempenhado pela escola no combate ao racismo e na edificação de aportes para construção e afirmação da identidade negra e quilombola na comunidade maior. Em seu processo de tornar-se quilombola, a instituição tem experienciado desafios, tensões, sucessos e recuos. Ainda que cerceada pelo racismo, a escola, na pessoa de seus gestores, alunos e professores, empreendeu ações que ecoaram em seu interior e para além dele. As transformações são significativas, pois sinalizam que esse contexto escolar tem influenciado positivamente o processo de construção das identidades, especialmente aquelas relacionadas à negritude e ao quilombo. Por isso, a escola é vista pelos moradores como instituição emblemática. Como agente fundamental na afirmação da identidade negra e da identidade quilombola, a escola se configura como pequeno mocambo, onde, em meio a diferenças e conflitos, são tecidas as identificações e os laços que conjugam pertencimento e posicionamento. Uma reverberação evidente desse processo é o grau de criticidade e a forma politizada com que os alunos discutem as relações étnico-raciais.