A inclusão da língua espanhola no ensino secundário brasileiro e os primeiros gestos de gramatização: os anos 1920 e a Era Vargas

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Sokolowicz, Laura
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8145/tde-04062020-125900/
Resumo: Por meio da análise de dois arquivos principais que funcionam como lugares de memória, o jurídico/legislativo e o dos instrumentos linguísticos que gramatizam o espanhol, esta tese se debruça sobre a inclusão dessa língua na educação básica em dois períodos importantes da historia do Brasil: os anos 1920 e a Era Vargas. Estudam-se as diferentes dinâmicas que em cada um dos momentos históricos selecionados marcaram tal inclusão: pontual no primeiro, com a incorporação da língua como disciplina facultativa no Colégio Pedro II (1920-1925) e com a produção de um único instrumento linguístico para seu ensino, a Gramática de espanhol para uso dos brasileiros, de Antenor Nascentes, e mais expandida no segundo pela ampliação do ensino médio e a inclusão do espanhol como disciplina obrigatória nesse âmbito escolar (1942-1961) como efeito das diretrizes da Reforma Capanema (1942). Essa ampliação produziu uma aceleração na produção editorial, da qual mapeamos certas regularidades e selecionamos o Manual de espanhol (1945), de Idel Becker e as reformulações produzidas pelo próprio autor para um estudo mais aprofundado. A partir de uma perspectiva glotopolítica e do dispositivo da análise de discurso materialista e da história das ideias linguísticas, observam-se mudanças e permanências à luz das transformações das conjunturas políticas, sociais, econômicas e educativas. Mudanças e permanências que permitem acompanhar a construção de uma memória discursiva sobre a língua na escola. Nossas conclusões apontam que um dos aspectos que afeta o movimento de inclusão/exclusão da língua e o tipo de inclusão estaria vinculado às diferentes posições que o Brasil assumiu nas relações internacionais com os Estados Unidos e com os países da América Latina e ao lugar outorgado aos países vizinhos no tabuleiro político. Como efeito, a inclusão da língua no primeiro período se mostrou \"tímida\" (breve e facultativa), e mais potente (com a obrigatoriedade e a longa permanência) na Era Vargas. Nesse segundo período, as alianças políticas e comerciais com os países da região e as missões culturais outorgaram à língua uma dimensão política que projetava sua contribuição para uma \"maior e mais íntima vinculação espiritual com as nações irmãs do continente\". Com relação ao processo de gramatização da língua, a pesquisa permitiu identificar na Real Academia Espanhola e nos instrumentos linguísticos produzidos por essa instituição uma matriz de sentidos. Se na Gramática de Nascentes observamos uma ampla adesão a esse dispositivo normativo, embora com estreitas fissuras por onde surgem suaves pinceladas sobre a diversidade da língua e as controvérsias que a habitam, no Manual de espanhol identificamos deslizamentos que, ampliando as fissuras do discurso hegemônico, dão à diversidade e às controvérsias maior visibilidade. Finalmente, vale assinalar que a realização da pesquisa permitiu observar que as biografias de Nascentes e Becker, autores estudados em cada período, parecem condensar questões e tensões de época, relevantes em termos das relações que podem ser estabelecidas entre os lugares sociais que ocupavam e as posições que se materializam na realização das respectivas obras.