Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
1970 |
Autor(a) principal: |
Martins, Paulo Sodero |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/0/tde-20231122-093101/
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Resumo: |
O presente trabalho visa analisar a variação que ocorre em comunidades naturais, representadas pelas espécies do gênero Miltonia Ldl. (Orchidaceae-Oncidieae). Entre os métodos de análise do processo evolutivo em populações selvagens, o reconhecimento e a descrição dos tipos de variação que ocorrem nessas populações, constituem a base para o estudo da fragmentação populacional e da diversificação. O gênero Miltonia Ldl. Foi escolhido para esse estudo, por possuir a maior parte de suas espécies localizadas no Brasil, abrangendo áreas fitogeográficas e ecológicas distintas, e porque suas espécies possuem grande variabilidade, devido à sua ampla distribuição geográfica. O material utilizado constituiu-se de plantas coletadas pelos técnicos do Instituto de Genética, na região suleste do Brasil, e que se acham em cultivo nos ripados desta Instituição. Foram analisados 149 espécimes. Para analisar e descrever os tipos de variação intra-específica, sempre que possível, fizemos as análises levando em consideração as regiões fitogeográficas e ecológicas. A área de distribuição da M. flavescens (Ldl.) Ldl. foi subdividida em cinco regiões, sendo que a região 5, considerada uma área especial do ponto de vista fitogeográfico dentro das formações vegetais da região suleste brasileira, foi considerada à parte. A área de distribuição da M. regnellii Reichb. f. foi subdividida em três regiões e a área da M. anceps Ldl. não pôde ser subdividida por ser muito restrita e uniforme do ponto de vista fitogeográfico. Para a análise da variação apresentada por essas espécies, levámos em consideração doze caracteres, escolhidos por serem caracteres de valor taxonômico comumente usados na classificação de orquídeas. Calculámos para cada caráter das espécies em estudo, a média, desvio-padrão, coeficiente de variação e a regressão linear, para possibilitar a comparação entre as regiões e a verificação se a variação que porventura ocorresse apresentava algum sentido ou era variação sem regularidade. Para a M. flavescens (Ldl) Ldl. estimámos as médias dos diversos caracteres na região 5 e calculámos os intervalos de confiança em torno dessas médias, a fim de comparar com as médias observadas nestas região. Com relação à M. flavescens (Ldl) Ldl., constatámos que os comprimentos do pseudobulbo, da folha, da sépala dorsal, da sépala ventral, da pétala e do labelo, apresentam variação clinal e que os outros caracteres que são as larguras do pseudobulbo, da folha, da sépala dorsal, da sépala ventral, da pétala e do labelo, embora não sejam clines perfeitos apresentam a mesma tendência de variação dos caracteres anteriores. A tendência encontrada nos doze caracteres da M. flavescens (Ldl) Ldl., foi a de haver aumento gradual no sentido sul-norte da área de distribuição, sendo que as menores dimensões dos caracteres analisados, são encontrados nos espécimes provenientes do noroeste do Rio Grande do Sul e nordeste do Paraguai e as maiores dimensões nos espécimes originários do Espírito Santo. Não foi encontrada qualquer correlação entre esse tipo de variação e a variação do número de cromossomos da M. flavescens (Ldl.) Ldl. Esta espécie apresenta variação neuplóide, que ocorre ao acaso. Com relação à região 5 (sul da Bahia), os valores estimados e observados dos caracteres analisados, confirmam a originalidade desta região do ponto de vista fitogeográfico e ecológico. Além disso, a época de florescimento diferente dos espécimes dessa região, indica a existência de uma fragmentação populacional e consequente diversificação. No que diz respeito à variação da forma do labolo, a maior variabilidade ocorre nas regiões 2 (São Paulo) e 5 (Bahia), sendo que a menor variabilidade ocorre na região 3 (Rio de Janeiro). Esses resultados são diferentes dos obtidos por MARTINS (1967) para a M. spectabilis Ldl. Com relação à M. regnellii Reichb. f., constatámos que sete caracteres analisados apresentam variação clinal, sendo que a espessura do pseudobulbo e o comprimento da folha, aumentam gradativamente de tamanho no sentido sul-norte da área de distribuição e o comprimento da sépala dorsal, comprimento e largura da pétala e comprimento e largura do labelo, diminuem de tamanho no sentido acima indicado. Os outros caracteres, com exceção do comprimento do pseudobulbo, que apresenta variação irregular, embora não sejam clines verdadeiros, apresentam a mesma tendência de variação dos caracteres que diminuem de tamanho no sentido sul-norte da área de distribuição. A única exceção é a largura da folha que mostra a tendência de aumentar de tamanho no sentido acima indicado. Não foi encontrada qualquer correlação entre a variação clinal e o número de cromossomos. Com relação à forma do labelo, constatámos que a variabilidade diz respeito tanto à forma como ao tamanho, sendo uniforme nas três regiões. A tendência da variação clinal encontrada nas espécies analisadas, com exceção de oito caracteres da M. regnellii Reichb. f., é a mesma encontrada por MARTINS (1967) para a M. spectabilis Ldl., sugerindo que um mesmo gradiente ecológico, existente no sentido sul-norte da região suleste do Brasil, seja o responsável pela existência e manutenção dos clines. Embora não existam dados ecológicos precisos, para tôda essa região, como as orquídeas são epífitas, e não foi notada, para esse gênero, nenhuma relação entre espécie de orquídea analisada e espécie de planta hospedeira, o gradiente, com grande probabilidade deverá ser climático, relacionado à temperatura e pluviosidade. Com relação à M. anceps, observámos que apresenta menor variabilidade que as outras espécies do gênero Miltonia. Isto era esperado devido à sua distribuição geográfica ser muito restrita. Não foi observado nesta espécie nenhuma variação no número de cromossomos. Os resultados obtidos na análise da variação, indicam que nas espécies do gênero Miltonia Ldl. existe a tendência de ocorrerem fragmentações populacionais devido ao tipo de variação existente. Embora tenhamos obtido sempre, variação contínua, verificámos que as populações marginais estão sofrendo evidente processo de diversificação e que as diferenças de época de florescimento encontradas são indícios de formação de mecanismos de isolamento. Por outro lado, confirmou-se a originalidade da região sul da Bahia e norte do Espírito Santo, do ponto de vista fitogeográfico, que se constitui num centro de especiação na região suleste brasileira , talvez mais intenso do que a região do Rio de Janeiro, considerada por SMITH (1962) como centro de especiação da floresta pluvial costeira. Com relação à taxonomia dos grupos estudados, os resultados obtidos na análise da variação, permitiram estabelecer que: a) na M. flavescens (Ldl.) Ldl., os espécimes da região 5 que se situam no extremo da variação clinal, devem ser considerados, de acôrdo com a classificação dos sistemas populacionais de GRANT (1963) como semiespécie simpátrica. b) a espécie M. quadrijuga Dus & Kränz. e as variedades stellata Regel e grandiflora Regel pertencentes à M. flavescens (Ldl.) Ldl., por se encontrarem dentro da amplitude de variação desta última espécie , como tal devem ser consideradas; c) na M. regnellii Reichb. f., a variedade citrina Reichb. f. embora seja um dos extremos da variação clinal, deve ser mantida por possuir características fenotípicas que a distinguem do resto populacional; d) na M. anceps Ldl., a variação irregular que ocorre não permite caracterizar qualquer categoria taxinômica. |