Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2018 |
Autor(a) principal: |
Ferruzzi, Emerson Henklain |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17140/tde-19102018-103322/
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Resumo: |
Introdução: A epilepsia é um transtorno neurológico que afeta 50 milhões de pessoas no mundo, mais comum em países de baixa renda. No Brasil, estima-se sua prevalência em 2 milhões de indivíduos com epilepsia crônica ativa, dentre os quais, no mínimo, meio milhão teriam crises epilépticas não controladas. Em 2001, Borges et al., estudando epilepsia na população indígena do Mato Grosso, índios Bakairi, encontraram prevalência de 12,4/1000 habitantes (9 pacientes no total). Objetivo: 1-Estudo sobre a epilepsia na população indígena da aldeia Jaguapirú, no município de Dourados, Mato Grosso do Sul, Brasil, com investigação por eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem, ou exames laboratoriais, se necessários. 2- Identificação de eventos paroxísticos não-epilépticos e fatores de risco associados ao desenvolvimento de epilepsia nesta amostra populacional. Metodologia: Após aprovações dos órgãos reguladores e consentimento das autoridades da aldeia Jaguapirú, foi realizado estudo transversal com aplicação de questionário de triagem das famílias residentes na aldeia visitadas por agentes de saúde, com o objetivo de identificar história de crises epilépticas e de epilepsia nesta subpopulação. Os pacientes selecionados como positivos foram submetidos a anamnese e exame físico feitos por neurologista, além de EEG e Tomografia (CT) de crânio, solicitados para todos, e/ou RM de crânio. Foi classificada a síndrome epiléptica e os casos de eventos paroxísticos de origem não epiléptica. Em paralelo, foi realizado estudo tipo caso-controle incluindo pacientes com questionário de triagem negativo para epilepsia, submetidos ao mesmo protocolo, para comparação com o grupo de pacientes, quanto a características sociodemográficos e fatores de risco Resultados: Foram entrevistados 2994 indígenas, 1557 (52,0%) do sexo feminino, com idades variando entre 0 e 98 anos e média de 21,3 anos. Em 71 indivíduos, foi encontrada alguma síndrome epiléptica, com confirmação do diagnóstico de epilepsia em 49 (1,6% da amostra populacional) e de uma síndrome epiléptica autolimitada, em 22 (13 casos de convulsão febril e 9 de crises isoladas na vida). Epilepsia focal foi caracterizada em 35 pacientes (71,4% do grupo de 49 epilépticos), generalizada, em 3 (6,1 %) e indeterminada se focal ou generalizada, em 11 (22,4%). Dentre as epilepsias focais, houve 2 casos de síndromes idiopáticas, respectivamente, do lactente e da infância. As demais compreenderam epilepsias focais sintomáticas ou provavelmente sintomáticas, sendo 19 casos de origem temporal (38,7%), 6 frontais (12,2%), 3 multifocais (6,1%), 2 parietais (4,0%) e 3 de origem não definida. As epilepsias generalizadas foram 2 casos idiopáticos com crises tônico-clônicas e 1 de epilepsia mioclônica juvenil (EMJ). A etiologia foi indeterminada em 41 casos (83,6%), sendo o traumatismo craniano, a encefalopatia hipóxico-isquêmica e malformações, vascular e cortical, as demais causas. Nosindígenas não portadores de epilepsia, 82 questionários de triagem foram positivos em decorrência de eventos paroxísticos de origem não epiléptica, predominando entre estes as crises de natureza psicogênica e a síncope. O grupo controle incluiu 84 indivíduos e, na comparação com os grupos de epilépticos e de convulsão febril, foram observadas diferenças significativas quanto ao gênero (predomínio do sexo feminino nos controles), à idades, média e mediana, (maior nos controles) e à classe socioeconômica (C2, predominante nos controles; D e E, nos demais), tendo havido predomínio significativo de retardo no desenvolvimento neuropsicomotor entre os epilépticos (p=0,045). O EEG (231 registros nos 5 anos de estudo / 2 a 4 por paciente portador de epilepsia) contribuiu para a definição do tipo de epilepsia em 24 pacientes (48,9%), 23 epilépticos focais e 1 com EMJ, sendo normal em 22 (44,8%). A ocorrência de \"cluster\" de crises foi identificada em 21 (42,8%) dos pacientes e status epilépticos em 14 (28,5%), tendo havido associação significativa entre o antecedente de \"cluster\" e a ocorrência de status (p<0,001). Apenas 11 pacientes realizaram os exames de neuroimagem solicitados no período. Quarenta e três (87,7%) pacientes se beneficiaram do tratamento com fármaco antiepilépticos (FAE), de primeira geração e em monotropia, tendo remissão ou melhora das crises: remissão completa em 16 (32,6%) e melhora na morbidade ou frequência das crises, em 27 (55,1%). A epilepsia inativa foi considerada em 9 (18,3%), dos 49 pacientes. Conclusão: A prevalência de epilepsia na amostra da população indígena brasileira estudada foi de 1,6%, similar à da população nacional, sendo mais frequente a epilepsia focal e, nesta, a de origem temporal, com apenas 3 casos de epilepsia generalizada idiopática. A prevalência aproximada de convulsão febril foi de 0,4%, taxa inferior à da população geral, o que pode decorrer da natureza transversal do estudo. Observou-se ótima resposta terapêutica aos FAE de primeira geração e em monoterapia. O atraso no desenvolvimento neuropsicomotor foi achado relacionado à epilepsia e a presença de \"cluster\" de crises relacionou-se com presença de status epiléptico no curso da epilepsia. Entre os eventos de natureza não epiléptica, prevaleceu a crise psicogênica, seguida pela síncope. |