Apapaatai: rituais de máscaras no Alto Xingu

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2004
Autor(a) principal: Barcelos Neto, Aristoteles
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-11052023-160248/
Resumo: Esta tese é uma etnografia das relações sociais que os índios Wauja do Alto Xingu estabelecem com os seres prototípicos da alteridade -- os apapaatai -- via adoecimentos e rituais de máscaras e aerofones. A descrição e análise dessas relações estão centradas numa estrutura seqüencial de três ações que os Wauja caracterizam por passear (com), trazer e fazer apapaatai. O passear implica em estar sofrendo de um adoecimento grave que resulta no total ou parcial deslocamento da alma (i.e. da consciência e da substância vital) do doente para o mundo dos apapaatai. A alma wauja é divisível, sendo passível de ser distribuída entre uma diversidade considerável de apapaatai, cada qual ligado a rituais específicos e inter-relacionantes. Ao xamã visionário-divinatório cabe descobrir com quais apapaatai estão a(s) alma(s) do doente, prosseguindo-se, então, com uma terapia para o resgate da(s) alma(s) -- o ritual de trazer apapaatai, no qual certos parentes do doente são convocados a incorporar os apapaatai em posse da(s) alma(s) e a devolvê-la(s) ao doente. Tal incorporação confere a esses parentes o status de kawoká-mona, o qual se caracteriza por \"apresentar\" ritualmente os apapaatai para o doente. A terapêutica se completa quando os kawoká-mona fazem os apapaatai na forma de máscaras e/ou aerofones rituais, sobre os quais o doente (ou ex-doente, caso seu estado de saúde tenha se normalizado) assume o status de nakai wekeho (\"dono\" ritual, i.e. aquele que cuida/alimenta os apapaatai). Contudo, o ritual de apapaatai é muito mais do que um meio de curar: suas implicações sociológicas mais relevantes só podem ser entendidas por meio dos eventos subseqüentes à festa em si, cujo desenvolvimento completo pode durar quase uma vida inteira. A manutenção desses rituais )consolida duas categorias sociais permanentes e fundamentais entre os Wauja -- kawoká-mona e nakai wekeho --, de cujas articulações resultam numa série de serviços e produtos diretamente em favor do \"dono ritual\" e da própria continuidade do ritual. Procuro demonstrar que a ritualização da doença é um dos pivots centrais da socialidade wauja. É a partir desses rituais que se articulam as trocas entre as diferentes unidades residenciais, o ethos da generosidade-respeito-vergonha e a cosmopolítica wauja