Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2022 |
Autor(a) principal: |
Zappa, Tatiana Maria Amaral |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Dissertação
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/6/6138/tde-11042023-165437/
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Resumo: |
Nas últimas décadas, países, como o Brasil, têm apresentado uma curva ascendente na incidência de doenças cardiovasculares (DCV), representando cerca de 30% das mortes totais e 72% da mortalidade por DCNT no Brasil. O atual padrão alimentar brasileiro é caracterizado pelo elevado consumo de alimentos industrializados, com alta densidade calórica e rico em açúcares de adição, onde se destaca o elevado consumo de sacarose e, consequentemente, de glicose e frutose. Ao contrário da frutose encontrada naturalmente em frutas e vegetais, o consumo excessivo exerce múltiplos efeitos negativos à saúde, destacando-se as dislipidemias, hiperuricemia e resistência à insulina e, possivelmente, o RCV. Poucos estudos têm avaliado a interação entre o consumo de frutose e aspectos culturais específicos. O objetivo deste estudo foi avaliar o papel da frutose no risco cardiovascular em descendentes alemães que mantêm a cultura germânica preservada. Trata-se de um estudo com dados primários do momento basal da Coorte \"Vida e Saúde em Pomerode (SHIP-BRAZIL)\" baseado na avaliação direta de dados socioeconômicos, culturais, clínicos e dietéticos (Questionário de frequência alimentar). Com base na avaliação fenotípica (etnia autodeclarada) e comportamentos sociais (falar alemão em casa, frequentar associação comunitária/cultural e relatar esforços para manter os hábitos alemães no Brasil por meio das vestimentas, músicas e culinária), os indivíduos foram classificados em grupos Germânico e Não germânico. A partir do sangue coletado foram analisados o perfil lipídico (Colesterol total - CT, HDL-c, LDL-c, VLDL, Não-HDL, triglicerídeos - TG), Índice de Castelli I (ICI), Índice de Castelli II (ICII), enzimas hepáticas (gama-glutamiltransferase - GGT, aspartato aminotransferase - AST e alanina minotransferase - ALT), glicose e frutose plasmática. Todos os testes estatísticos foram analisados no programa Statistical Package for the Social Siences® (SPSS) versão 20.0, sendo o nível de significância de p<0,05. Da amostra investigada (n=597), 68,3% pertençam ao grupo Germânico, onde o sexo feminino foi o mais frequente em ambos os grupos (Germânicos= 56,7%; Não germânicos= 57,5%, p=0,892), e predominantemente adultos entre 30 e 60 anos. Em relação às doenças autorrelatadas, o grupo Germânico apresentou maior prevalência de HAS (41,9% versus 24,7%; p<0,001) que o grupo Não germânico, sendo confirmado pela maior frequência no uso de medicamentos anti-HAS (35,1% versus 21,7%; p=0,002) e pela maior pressão arterial sistólica observada (126 mmHg versus 121 mmHg; p<0,001) e valores superiores no sexo masculino. Os homens do grupo Germânico apresentaram valores superiores de peso, IMC e CC quando comparados às mulheres e ao grupo Não germânico. Perfil oposto foi observado para o percentual de MG que foi superior no grupo feminino. A classificação dos parâmetros antropométricos confirmou que o grupo Germânico teve maior risco de complicações cardiovasculares associado à elevada CC (72% versus 53%. p<0,001). Embora os grupos Germânico e Não germânico tenham apresentado perfil lipídico e enzimas hepáticas semelhantes, os indivíduos do sexo masculino em ambos os grupos apresentaram maiores valores de glicemia, frutose, enzimas hepáticas e ICI e II, assim como menor valores de HDL-c, quando comparados às mulheres. Embora o autorrelato de diagnóstico de esteatose hepática no grupo Germânico tenha sido cerca de três vezes superior ao grupo Não germânico, os resultados de ultrassonografia hepática não identificaram diferenças, segundo grupos e sexo. A estimativa do risco cardiovascular mostrou que os indivíduos do grupo Não germânico apresentaram maior frequência de alto risco cardiovascular. A frutose plasmática não se correlacionou com o consumo de frutose (r= -0,013; p=0,556), entretanto, a avaliação dos grupos alimentares segundo grau de processamento mostrou que o grupo Germânico teve maior consumo de alimentos processados e ultraprocessados, caracterizado principalmente pelo elevado consumo de sucos, refrigerantes, doces e feijoada/feijão tropeiro. Em conjunto, destacou-se o elevado consumo de alimentos ricos em sacarose e consequentemente em frutose. Observamos que a frutose plasmática no grupo Germânico se correlacionou positivamente com a CC (p=0,001), perfil lipídico (TG, TG/HDL, p<0,001), enquanto observou-se correlação negativa com o HDL-c (p<0,001). Essas correlações foram mais robustas no grupo Não germânico. Os indivíduos do grupo Germânico apresentaram um risco de ter elevada concentração de frutose 75% superior ao grupo Não germânico. No modelo múltiplo, os indivíduos do grupo Germânico apresentaram o dobro de chances de terem HAS, e CC com valores indicativos de elevado RCV, porém menor chance de terem DLP. A inclusão da frutose no modelo de regressão mostrou tendência de maior RCV nos indivíduos germânicos com maior concentração de frutose no plasma. No modelo ajustado pela idade e sexo, a HAS perde a significância, enquanto a associação com a frutose se torna significativa. No modelo que também inclui o consumo de álcool, tabagismo e uso de medicamentos como variável de ajuste, apenas CC e DLP se mantiveram associados à preservação da cultura germânica. Com base nestes resultados podemos concluir que a preservação da cultura germânica se associou ao elevado consumo de frutose e essa manteve relação com elevada adiposidade, pressão arterial, diabetes mellitus e esteatose hepática, entretanto não houve impacto no perfil lipídico e na estimativa do risco cardiovascular. |