Vestígios do sagrado: uma etnografia sobre formas e silêncios

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Rocha, Ewelter de Siqueira e
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-12122012-125717/
Resumo: Este estudo trata-se de uma etnografia sobre formas sagradas. O nosso campo empírico foi a cidade de Juazeiro do Norte, município situado no sul do Ceará, um dos maiores centros de romaria popular do Brasil, enfocando em particular a Ladeira do Horto, caminho velho que conduz à estátua do Padre Cícero. A partir de uma cooperação teórica entre os campos da etnomusicologia e da antropologia visual, realizamos uma reflexão sobre processos não narrativos de enunciação e produção de poder sagrado. A provocação empírica que move esta discussão foi identificada durante a nossa pesquisa de mestrado, concluída no ano de 2002, questão inicialmente circunscrita ao âmbito da significação musical. Percebemos, naquela época, que algumas músicas do repertório religioso tradicional, verdadeiros tesouros para os devotos mais idosos, eram rechaçadas pelos católicos modernos, sendo seu canto considerado um chamariz de infortúnios, prenúncio de má sorte. Retomada nesta pesquisa de doutorado, a velha provocação mostrou uma envergadura infinitamente maior, transcendendo o domínio sonoro e abrangendo todo um conjunto de expressividades relacionadas a uma prática devocional voltada para o cultivo da penitência como principal preceito religioso na economia de salvação das almas. Esta pesquisa procura mostrar como foi possível a esses devotos idosos preservarem a sua identidade penitencial sem prejuízo do sentimento de unidade religiosa com a Igreja Católica, cuja orientação doutrinária atual constrange as práticas devocionais centradas no exercício da penitência e da mortificação do corpo. Alvitramos a existência de uma doutrina penitencial apócrifa que apesar de não ser propalada nos discursos sobre religião está consignada no repertório musical dos antigos benditos, nos altares domésticos e na corporeidade das velhas beatas, instâncias que elaboram um espaço estético de plausibilidade capaz de legitimar o valor sagrado da penitência e de preservar nos devotos a convicção sobre obediência e unidade católica.