Corpus Alienum: efeitos do discurso das novas dietas, corpo-projeto e mídia

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2018
Autor(a) principal: Sanches, Rodrigo Daniel
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-01082018-110612/
Resumo: A pesquisa busca investigar e refletir, na perspectiva teórica da Análise do Discurso (Pêcheux; Orlandi), em interface com pesquisadores das Ciências Sociais, sobre o sujeito e os efeitos de sentido produzidos pelo discurso midiático de dietas e suas novidades, que promete resultados rápidos e fáceis na busca de um corpo muitas vezes irreal. A preocupação em perder peso tem aumentado e, segundo alguns psiquiatras, tornou-se um problema de grandes proporções. Neste processo de construção do corpo, nos interessa o discurso produzido pela mídia atual e materializado em práticas sociais e condutas corporais. O corpus foi composto por revistas e sites que promovem as novas dietas, e que, além da publicação impressa, dispunham de versão digital com espaço para comentário dos leitores. A nossa hipótese é a de que o discurso midiático das novas modalidades de regime afeta a constituição da mulher e sua relação com o corpo na contemporaneidade. Esse discurso, com uma linguagem ancorada em simbolismos, promete que o novo (dieta, exercício) por si só, é e será sempre o melhor, mesmo com o surgimento de coisas novas em velocidade incompatível com a capacidade dos sujeitos de consumi-las e entendê-las em sua totalidade. As condições de produção do discurso das dietas são marcadas profundamente por alguns aspectos: o texto da mídia, a linguagem publicitária (imagens e textos atuando em conjunto), a velocidade, a repetição, o consumo e a tecnologia. A dieta não deve ser analisada apenas como um produto, mas como um fenômeno discursivo que faz circular sentidos em uma ambiência midiática que opera em um cenário sócio-histórico, cultural e econômico-capitalista. A ideologia das dietas está atrelada ao mercado, que por sua vez interpela os sujeitos através da mídia, convocando-os a alcançarem patamares de excelência cristalizados em formatos corporais. O sujeito é interpelado a re(fabricar)-se a todo momento. O imperativo sucesso perpassa as formações ideológicas e seus discursos. Enquanto o discurso da boa forma interpela o sujeito convocando-o a ser mais ágil e rápido na busca do corpo-perfeito, o corpo da realidade testa seus limites deparando-se com sua fragilidade. É nesse processo que sentidos como os de beleza se constituem, através de um jogo de filiações históricas que os determinam, mas que jamais se estabilizam completamente. Nesse jogo, percebemos o funcionamento da ideologia legitimando o que deve ser compreendido como formato (imagem) do corpo contemporâneo. Os sentidos do discurso midiático das dietas e boa forma, ao enaltecer o corpo-projeto, menospreza o corpo-abjeto. O corpo-abjeto simplesmente é, enquanto o corpo-projeto está calcado em um devir, em um deve ser. A ideologia do mercado das dietas faz circular sentidos de um corpo-projeto que contrastam com a obsolescência do corpo da realidade, tomando-o como um objeto frágil e obsoleto pela gordura que carrega, pelo processo de envelhecimento e pelas doenças que o castigam. O sujeito é convocado a viver na encruzilhada entre a excelência imposta pelas ferramentas midiáticas e a imperfeição da realidade.