Ingredientes de uma identidade colonial: os alimentos na poesia de Gregório de Matos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2007
Autor(a) principal: Papavero, Claude Guy
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8134/tde-19032008-103724/
Resumo: No final do século XVII, quando Salvador era a capital do Brasil colonial, os hábitos alimentares da cidade e de seus arrabaldes rurais inspiraram muitas metáforas e metonímias ao advogado e poeta seiscentista Gregório de Matos, também conhecido pela alcunha de Boca de inferno. Transformados em fontes de tropos satíricos ou burlescos, os alimentos consumidos na colônia serviram ao poeta para ridicularizar muitos integrantes da sociedade soteropolitana. A obra de Matos documentou um processo histórico e revelou uma maneira local mazomba de conceber o mundo. Seus sarcasmos e suas ironias atacaram inimigos pessoais, cujos hábitos alimentares indignos ou aparências físicas criticaram. Eles se voltaram também contra categorias sociais de colonos que, por sua ascensão econômica, não respeitavam os códigos sociais e culturais vigentes na colônia. A obra de Matos permitiu a essa tese de doutorado em Antropologia Social investigar os conceitos de hierarquia que norteavam a sociabilidade das elites soteropolitanas. Ela foi preservada pelo público do poeta que copiou as poesias após seu exílio para Angola, comprovando a condição assumida por ele de porta-voz dos mazombos frente à crise que, nas últimas décadas do século XVII, afetou o estilo de vida perdulário da população colonial abastada. O recurso intencional a metáforas alimentares também delineou, involuntariamente, os hábitos cotidianos dos colonos. Apesar dos clichês e provérbios e das alusões obscenas do poeta aos manejos dos alimentos, os versos evidenciaram muitos hábitos de nutrição facilmente identificados pelo público. Verificou-se durante a investigação como três fontes principais de representações culturais modelavam a dieta alimentar soteropolitana: o pertencimento religioso dos colonos ao catolicismo, aspirações de ascensão social e a obediência aos preceitos da medicina humoral hipocrática.