Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: |
2016 |
Autor(a) principal: |
Silva, Milton Francisco da |
Orientador(a): |
Não Informado pela instituição |
Banca de defesa: |
Não Informado pela instituição |
Tipo de documento: |
Tese
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Tipo de acesso: |
Acesso aberto |
Idioma: |
por |
Instituição de defesa: |
Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: |
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Link de acesso: |
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8142/tde-21122016-125247/
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Resumo: |
Nos últimos anos, milhares de haitianos migraram para o Brasil, fugindo das mazelas socioeconômicas do Haiti e das consequências do terremoto de 12 de janeiro de 2010 na capital Porto Príncipe. Grande parte deles chegou ao Brasil por via terrestre, especialmente pelas cidades fronteiriças de Tabatinga-AM e Brasileia-AC, de onde muitos se deslocaram para São Paulo, em busca de trabalho e a fim de recomeçarem a vida. Tendo em conta esse cenário, realizamos nesta tese uma leitura crítica de notícias do jornal Folha de S. Paulo sobre tais imigrantes. Baseamo-nos em estudos do Círculo de Bakhtin sobre o discurso e o sujeito, e na Análise Crítica do Discurso (ACD), vinculando conceitos bakhtinianos ao campo teórico da ACD. Acerca do elemento linguístico do discurso, focalizamos especialmente as estratégias linguístico-referenciais empregadas, que são escolhas feitas pelo enunciador. Relacionamos esse marco teórico ao deslocamento dos haitianos para o Brasil e a suas relações sociais e laborais no contexto brasileiro. Dentre os resultados, destacam-se: quanto ao interdiscurso, ao recontextualizar vozes de alguma prática jornalística (como depoimentos, entrevistas e falas do dia a dia) ou textos alheios ao jornalismo (como notas emitidas pelos governos, relatórios de pesquisa, resoluções e decretos), o enunciador exerce poder sobre tais vozes e os atores sociais que as enunciam. Com frequência, o enunciador usa o que caracterizamos como observação in loco, relato histórico e voz de conhecimento público, e, ao mesmo tempo, recursos linguísticos que conferem à Folha um caráter investigativo. Assim, temos indicações da forma contemporânea do gênero notícia. Acerca dos governos acreano, paulista, federal e da prefeitura de São Paulo, em muitas notícias, o enunciador se mostra a seu serviço, no sentido de recontextualizar suas vozes e lhes construir uma representação positiva, incutindo-a na mente do enunciatário. Em algumas notícias, porém, o enunciador atua contra os governos petistas referidos (federal, acreano e da prefeitura de São Paulo), tratando a imigração haitiana como questão da esfera político-partidária, e não da administração pública. Essa atuação tem efeitos controversos: possivelmente se incute na mente do enunciatário uma representação negativa de tais governos e desqualifica a Folha como jornal sério e imparcial, representação criada em várias notícias. As notícias mostram que os imigrantes haitianos estão à margem das ordens sociais e ordens do discurso, sobretudo porque não dominam a língua portuguesa e não conseguem atuar nas diferentes práticas sociais do dia a dia. Suas vozes, em geral, não compõem a notícia de forma evidente, nem mesmo quando o assunto em pauta é a busca de solução dos problemas que vivem: no lugar deles e sobre eles falam especialmente membros dos governos. Essa condição à margem das ordens sociais é fomentada pela escolha de expressões referenciais do enunciador. A referência a eles ocorre com uso, por exemplo, de imigração ilegal e imigrantes ilegais, o que diz respeito a uma representação negativa. De um modo geral, o enunciador não atua em prol das minorias, mas sim fomenta as relações sociais de poder já estabelecidas no contexto brasileiro. As notícias não provocam uma luta hegemônica que, ao menos, promova acesso dos haitianos às ordens sociais ou que mitigue sua condição de grupo minorizado no Brasil. |