Geologia da Formação Aquidauana (Neopaleozóico, Bacia do Paraná) na Porção Centro-Norte do Estado de Mato Grosso do Sul.

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 1997
Autor(a) principal: Gesicki, Ana Lúcia Desenzi
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44136/tde-17032014-112413/
Resumo: Este trabalho resulta da investigação das rochas sedimentares da Formação Aquidauana (Carbonífero-Permiano) em Mato Grosso do Sul sob a abordagem da análise de fácies sedimentares, visando o reconhecimento dos principais sistemas deposicionais e respectiva disposição paleofisiográfica, de forma a contextualizar a deposição da unidade dentro da glaciação gondvânica neopaleozóica. As estruturas tectônicas ocorrentes tanto nas rochas paleozóicas quanto nos depósitos coluviais e aluviais cenozóicos da área foram também alvo deste estudo no sentido de delinear pioneiramente o tectonismo deformador pós-Paleozóico, de caráter rúptil, atuante na configuração da atual borda oeste da Bacia do Paraná. A subdivisão estratigráfica informal da Formação Aquidauana em três intervalos - inferior, médio e superior - resultou no reconhecimento de onze associações de fácies sedimentares representativas de distintos sistemas deposicionais. O intervalo inferior é caracterizado por sistemas deposicionais aluvial e fluvial entrelaçado com retrabalhamento eólico localizado, dispostos lateralmente a ambiente subaquático raso provavelmente marinho shoreface e offshore, onde a sedimentação foi resultante de retrabalhamentos durante tempestades episódicas e de intensa ressedimentação confinada ou não-confinada, possivelmente promovida por avanços e/ou proximidade das geleiras ao ambiente sedimentar. O intervalo médio é marcado pelo afogamento generalizado do sítio sedimentar, quando se instala deposição essencialmente pelítica procedente de correntes de turbidez de baixa densidade, num cenário de melhoria das condições climáticas, que teria permitido a proliferacão de organismos bentônicos, configurando fase interglacial. A retomada de sedimentação subaquática, progressivamente mais rasa e resultante de fluxos trativos de maior energia, caracterizam a base do intervalo superior. Nela, o topo do intervalo médio é intensamente retrabalhado pela instalação de fluxos gravitacionais de sedimentos de diversos graus de coesão, que assinalam a retomada dos avanços de geleiras à bacia e um novo ciclo sedimentar. Esta fase de ressedimentação foi seguida pela instalação de sucessões shoaling upward, num contexto de linha de costa progradante assolada por tempestades, pelo avanço de braid deltas e pela ampliação das áreas de exposição subaérea. Neste cenário, durante os picos de glaciação (stadial maxima), os avanços de glaciares promoveram substancial aporte de sedimentos rudáceos à bacia, que foram progressivamente ressedimentados por ocasião dos seus recuos, tanto em condições subaéreas quanto subaquáticas, devido às oscilações do nível d\'água do corpo aquoso antes retraído. As indicacões sedimentares apontam para condições climáticas bastante severas (há indícios de que o substrato sedimentar tenha estado congelado) e de acentuada aridez (predomínio de sedimentacão eólica). O topo do intervalo superior registra significativa ampliação das áreas de sedimentação eólica e não exibe mais nenhum indício da proximidade de geleiras. O sistema deposicional eólico é caracterizado por depósitos de dunas de médio porte e amplas áreas de deposição de sand sheets, nos quais se desenvolveram depósitos lacustres terrígenos e carbonáticos (bancos oolíticos), com discretos indícios de precipitação de sais. Acredita-se ter este conjunto sedimentar se formado já num cenário pós-glacial, regido por condições climáticas tão áridas quanto nas outras associações de fácies da Formação Aquidauana, mas possivelmente mais quentes. Seria correlato, em termos estratigráficos e paleoambientais, à Formação Dourados. A análise das paleocorrentes deposicionais revela que a migração dos fluxos canalizados e fluxos gravitacionais foi voltada para NW e SW, exceto no conjunto sedimentar correlato à Formação Dourados, marcado por significativo transporte fluvial para SE. O regime de ventos variou de uma constante direção de migração de NW para SE, no intervalo inferior, para uma distribuição bimodal no intervalo superior, caracterizando ventos predominantes provenientes de SW e Sul. Os pavimentos estriados pelo gelo indicam que o avanço das geleiras neopaleozóicas foi de SSE para NNW, provenientes das mesmas áreas-fontes de geleiras admitidas para o Grupo ltararé na borda leste da Bacia do Paraná. O tectonismo deformador do pacote sedimentar paleozóico na borda oeste da bacia está relacionado a cinco fases distintas: a) fase de extensão E-W, sin-deposicional ao topo do pacote sedimentar neopaleozóico (possivelmente Formação Dourados), acompanhada de abalos sísmicos; b) fase de transcorrência dextral, pós-Jurássica, associada a binário de direção E-W, com eixo de máxima compressão (\'sigma IND. 1\') de direção NW-SE e de máxima extensão (\'sigma IND. 3\') de direção NE-SW; c) fase de compressão E-W, neotectônica, reconhecida através famílias de juntas conjugadas de cisalhamento que afetam indistintamente depósitos coluviais quaternários e sedimentos paleozóico-mesozóicos; d) fase de compressão NE-SW, neotectônica, provavelmente associada a binário sinistral de direção E-W, identificada através de falhas direcionais que foram reativadas posteriormente, na fase de extensão E-W, como falhas normais que afetam, além dos sedimentos paleozóicos, depósitos aluviais quaternários de baixos terraços.