Da Imagem de uma criança morta ao UNHEIMLICH

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Bartijotto, Juliana
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59142/tde-09042021-141654/
Resumo: Esta pesquisa tem como objetivo analisar o discurso em torno da foto de Aylan Kurdi, uma criança síria de 3 anos encontrada morta em 2015 numa praia da Turquia. O menino, junto de sua família, fugia da tragédia que assola seu país. A foto viralizou na mídia, causando grande repercussão, fazendo com que ganhasse o prêmio de melhor foto do ano no período e eleita o símbolo da crise dos refugiados. Tomamos a imagem dessa criança como um despertador do mal-estar na cultura que provocou uma inquietante estranheza, o que Freud nomeou de Unheimlich. Os dispositivos teóricos e metodológicos para a análise se sustentaram na interface entre Psicanálise Lacaniana e Análise do Discurso Pêcheutiana (AD), em que a teoria e a análise estão em constante entrelaçamento. Almejamos, com esse entremeio, elucidar o funcionamento discursivo (segundo Lacan e Pêcheux) e ideológico (segundo Althusser). O conceito norteador da pesquisa girou em torno do Unheimlich freudiano. Levamos em consideração que estamos na era da mídia, no apogeu da produção de um amontoado de imagens e regida pelo discurso capitalista. A partir das análises, apontamos os efeitos de sentidos e a intericonicidade (interdiscurso + ícone) ao revelar as posições que a imagem ocupou nas produções discursivas. Notamos que, por meio da mídia, a propaganda tenta globalizar o desejo, servindo-se do apelo sustentado por outros acontecimentos históricos. Esse funcionamento nós extraímos na análise da publicidade de uma escola de natação no Brasil que utiliza a foto de Aylan para vender um produto. Tal serviço garantiria (ilusoriamente) a segurança/vida de qualquer criança diante da trágica morte por afogamento. Essa peça publicitária causou uma estranha inquietação coletiva, tendo um efeito contrário ao proposto pelo discurso publicitário/capitalista. Concluímos que a veiculação da foto de Aylan Kurdi produziu um mal-estar coletivo e a peça de publicidade causou uma crítica generalizada. Finalmente, vale destacar que essas duas inquietações são de ordem inconsciente (conforme a psicanálise) e, ao mesmo tempo, são produtos das formações ideológicas (conforme a AD).